A Rússia voltou a atacar a região de Odessa, no sul da Ucrânia. A área abriga um dos maiores portos da Europa com acesso direto ao Mar Negro. Trata-se do terceiro ataque consecutivo das forças do presidente Vladimir Putin desde que Moscou se retirou do acordo para a exportação de grãos. As informações foram divulgadas pelas forças armadas ucranianas. Segundo eles, os russos dispararam 19 mísseis e 19 drones durante a noite dessa quarta-feira (19). Ao menos 20 pessoas ficaram feridas.
O governador da região de Mikolaiv, Vitaliy Kim, informou no Telegram que os bombardeios deixaram 18 feridos.
"Os russos atacaram o centro da cidade. Um estacionamento e um edifício residencial de três andares estão em chamas", disse Kim.
O prefeito da cidade portuária, Oleksandr Senkevich, afirmou que pelo menos cinco prédios residenciais sofreram danos durante o ataque.
Em Odessa, que fica a 100 quilômetros ao sudoeste de Mikolaiv, duas pessoas foram hospitalizadas após um bombardeio russo, anunciou o governador Oleg Kiper.
A Rússia advertiu na quarta-feira que vai considerar como possíveis alvos militares os navios que seguem em direção à Ucrânia após o fim do acordo.
As autoridades ucranianas informaram na quarta-feira que os ataques russos destruíram 60 mil toneladas de grãos que seriam exportados.
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou que a Rússia está disposta a retornar ao acordo se a "totalidade" de suas demandas for respeitada.
Usar "a comida como arma"
A invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022, provocou o bloqueio dos portos na costa do Mar Negro da Ucrânia, um dos principais produtores de cereais do mundo, o que gerou grande tensão no mercado mundial de alimentos.
O acordo assinado em julho de 2022 com a Rússia permitiu a retomada do trânsito de grãos, mas o Kremlin se recusou a renovar o pacto alegando que parte que deveria garantir as exportações dos alimentos e fertilizantes do país não estava sendo cumprida. O pacto expirou à meia-noite de segunda-feira no horário de Istambul (18h em Brasília).
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou que milhões de pessoas vão "pagar o preço" por esta decisão, que segundo ele "afetará as pessoas mais pobres em todo o mundo".
Ataque na Crimeia
Na Crimeia, a península no sul da Ucrânia anexada pela Rússia em 2014, um ataque com drone matou uma adolescente e atingiu vários prédios administrativos, informou nesta quinta-feira o governador local designado por Moscou.
As autoridades locais ordenaram na quarta-feira a saída de milhares de civis de suas casas após um incêndio em uma área militar da Crimeia. De acordo com a imprensa russa, explosões foram registradas em um depósito de munições.
A Ucrânia intensificou os ataques contra esta península, que é um ponto crucial para o abastecimento das tropas russas no território do país vizinho.
Na segunda-feira, drones navais ucranianos atacaram a ponte de Kerch, uma ligação vital entre a Rússia e o território anexado.
Ucrânia pede patrulhas no Mar Negro
Na frente de batalha, os combates se concentram no leste da Ucrânia, onde a contraofensiva iniciada em junho por Kiev enfrenta dificuldades para romper as linhas russas, apesar do envio de armas pelos países ocidentais.
O exército russo afirmou que suas forças avançaram mais de um quilômetro durante várias "operações de ataque" ao norte da cidade de Kupiansk, nordeste da Ucrânia.
O conselheiro da presidência ucraniano, Mikhailo Podolyak, afirmou que o país precisa de 200 a 300 veículos blindados adicionais para romper as linhas russas e de 60 a 80 caças F-16, além de cinco a 10 sistemas de defesa antiaérea Patriot, de fabricação americana, ou seu equivalente francês SAMP/T.
Podolyak também pediu uma análise sobre a instauração de um mandato da ONU para criar patrulhas militares com a participação dos países da região do Mar Negro para garantir a segurança de suas exportações.