Um jovem de 24 anos, identificado como Henri d'A., está sendo chamado de herói nacional na França depois de enfrentar o autor de um ataque na cidade francesa de Annecy e impedir que a tragédia fosse ainda maior. Henri usou a mochila para conter o agressor que esfaqueou seis pessoas, incluindo quatro crianças, em um parque, na quinta-feira (8).
Ele estava perto do local do ataque quando ouviu os gritos desesperados de uma mulher que tentava proteger um bebê em um carrinho. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram que o jovem ficou frente a frente com o agressor, afastando-o do parquinho, onde estavam outras crianças.
As imagens do ataque rapidamente circularam nas redes sociais. Os vídeos mostram as pessoas paralisadas diante das agressões, feitas por um homem de 32 anos e nacionalidade síria, enquanto outras fogem correndo do local. E então o jovem morador de Paris, que viajava pela França para conhecer catedrais, aparece perto do assassino, desviando sua atenção e puxando-o para fora do perímetro onde estavam os bebês.
Henri usou uma de suas mochilas como proteção. Em dado momento, ele tenta acertar o agressor com uma de suas bolsas, e depois se livra de uma delas para perseguir o agressor mais rapidamente. Logo, passou a ser tratado como o "herói da mochila" na França.
De acordo com autoridades, Henri ganhou segundos preciosos até a chegada da polícia e impediu que mais pessoas fossem atacadas. Segundo a Rádio Europe 1, o presidente francês, Emmanuel Macron, deve homenageá-lo pessoalmente nesta sexta-feira (9).
Poucos detalhes sobre o "herói" foram divulgados. Nas redes sociais, ele publicou um comentário sobre o episódio, dizendo que estava bem e pedindo aos seus seguidores que orassem pelas crianças feridas.
Em entrevista à emissora CNews, Henri contou que viaja pela França para conhecer catedrais e disse que a fé católica lhe deu forças para lutar contra o agressor.
— Tudo o que eu sei é que não estava lá por acaso. Em minha jornada, cruzei com este homem e agi instintivamente. Era impensável não fazer nada — afirmou ele. — Tentei assustá-lo e deixar claro que ele não podia fazer o que quisesse — acrescentou.
Morador de Paris, Henri mantém uma página em uma rede social com registros da viagem. Embora ainda esteja chocado com os acontecimentos da véspera, apontou como ponto positivo o fato de seu projeto ter ganhado visibilidade.
— Agradeço a Deus que poderei alcançar mais pessoas — disse.
Henri é formado em filosofia e gestão internacional. Ele se define como um "amante das catedrais" e diz que vai rodar a França ao longo de nove meses.
Homenagem às vítimas
Uma missa em homenagem às vítimas e seus familiares será realizada na catedral de Annecy nesta sexta-feira. Na véspera, o agressor, identificado como Abdalmasih H., esfaqueou de forma aleatória seis pessoas, incluindo quatro crianças. Ele foi detido pela polícia, e o Ministério Público descartou motivação terrorista.
Dezenas de cidadãos de Annecy depositaram flores brancas, bichos de pelúcia, velas e bilhetes com mensagens de apoio em um pequeno memorial improvisado no local do atentado, onde as crianças voltaram a brincar horas depois do ataque.
Segundo o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, o homem carregava uma cruz no momento em que foi preso. O jornal Le Monde relatou que ele dizia frases como "em nome de Jesus Cristo" no momento do ataque. A emissoras locais, uma mulher que diz ser ex-esposa do agressor afirmou que ele era cristão e que nunca havia demonstrado traços de personalidade violenta.
Nas redes sociais, os perfis do "homem da mochila" foram inundados com mensagens de agradecimento. "Que Deus te abençoe. Você fez o que pôde naquele momento, não desistiu, não correu. Você é um anjo", escreveu uma usuária no Instagram.
As crianças feridas têm idades entre um ano e três anos. Três delas continuam hospitalizadas e receberam a visita de Macron, que viajou acompanhado da primeira-dama, Brigitte. Ele disse que a recuperação de uma das crianças, com idade pré-escolar, estava "indo na direção certa", e o ministro das Relações Exteriores disse que outra vítima, de nacionalidade holandesa, está fora de perigo.
Segundo o porta-voz do governo, Olivier Véran, duas crianças permanecem em estado crítico. Num contexto de tensão política devido à implementação de uma reforma migratória na França, ele pediu prudência e disse ser necessário esperar a conclusão das investigações antes da tomada de decisões.
O suspeito não tem antecedentes criminais e não era investigado por nenhum serviço de inteligência regional. Tampouco tinha histórico psiquiátrico, segundo as autoridades, e não estava sob efeito de entorpecentes ou de álcool no momento em que realizou o ataque.
Ele deve passar nesta sexta por um exame psiquiátrico. Segundo a emissora local da France Bleu, o agressor ainda não havia sido interrogado, já que estava agitado e até "se revirava no chão" da delegacia.