O blogueiro russo Vladlen Tatarski, que era um dos mais influentes apoiadores da invasão da Ucrânia pela Rússia, morreu neste domingo (2) após uma explosão em um café no centro de São Petersburgo. O governo russo ainda não informou as causas da explosão nem conectou o caso à guerra. Tatarski, estava no Café Street Food Bar Nº1 para um evento no qual falaria sobre sua experiência como repórter militar.
Pelo menos 19 outras pessoas ficaram feridas, disse o comunicado do ministério. Vídeos postados nas redes sociais mostraram vidros quebrados e móveis espalhados pelo café.
Não ficou imediatamente claro o que provocou a explosão, mas relatos na imprensa russa citando outros blogueiros presentes no evento dizem que uma mulher presenteou Tatarski com uma caixa contendo uma pequena estátua, que teria sido o vetor da explosão.
Um grupo patriótico russo que organizou o evento disse ter tomado precauções de segurança, mas acrescentou que "lamentavelmente, elas se mostraram insuficientes".
Desde que os combates na Ucrânia começaram, em 24 de fevereiro de 2022, vários incêndios e explosões ocorreram na Rússia, sem nenhuma conexão clara com o conflito.
Quem era Vladlen Tatarsky
Tatarski cujo nome verdadeiro era Maksim Fomin, tinha 40 anos. Desde o início da Guerra, ele emergiu como uma das principais vozes a favor da invasão no aplicativo de mensagens Telegram, o mais usado no país. Ele acumulou mais de 550 mil seguidores no aplicativo, publicando vídeos diários nos quais descrevia a situação na linha de frente, os problemas enfrentados pelo exército russo e as possíveis perspectivas da guerra.
Em novembro passado, quando um comandante russo anunciou que as tropas de Moscou seriam retiradas de Kherson, na Ucrânia, Tatarski estava entre os blogueiros e comentaristas militares russos que responderam com desespero, angústia e negação. Tatarski reagiu à notícia dizendo em um post que o plano geral da Rússia para a guerra era "idiota" e "baseado em desinformação".
Natural de Makiivka, perto de Donetsk, na Ucrânia, Tatarski se considerava russo. Ele argumentava que a Rússia deveria vencer a guerra contra a Ucrânia a todo custo e pedia a eliminação do estado ucraniano.
— Precisamos acabar com esse Estado mais cedo ou mais tarde. Esta deve ser a nossa política — disse Tatarski no sábado (1º) em seu último vídeo.
Ele também denunciou ativistas russos e figuras culturais que se opunham à guerra.
Tatarski frequentemente criticava a forma como o exército russo estava conduzindo o plano de batalha, incluindo a má coordenação entre as unidades e a falta de armas avançadas como drones. Em outro vídeo recente, ele argumentou que o exército de Moscou era profundamente falho e sugeriu que nada mudaria se fossem substituídos o ministro da Defesa ou o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
— Precisamos mudar o sistema — declarou.
Após a anexação ilegal de quatro regiões da Ucrânia pelo Kremlin no ano passado, Tatarski postou um vídeo no qual afirmava:
— É isso. Vamos derrotar todo mundo, matar todo mundo, roubar todo mundo que precisarmos. Vai ser tudo do jeito que a gente gosta. Deus esteja com vocês.
O conselheiro presidencial ucraniano Mikhailo Podoliak especulou, no Twitter, que russos opositores à invasão estariam por trás da explosão. "As aranhas estão comendo umas às outras em uma jarra. A questão de quando o terrorismo doméstico se tornaria um instrumento de luta política interna era uma questão de tempo", escreveu.
Em agosto passado, Daria Dugina, uma comentarista de 29 anos de um canal nacionalista de TV russo, morreu quando um dispositivo explosivo controlado remotamente colocado em seu SUV explodiu enquanto ela dirigia nos arredores de Moscou.
Ela e seu pai — um filósofo, escritor e teórico político pró-Kremlin — apoiaram fortemente a decisão do presidente russo, Vladimir Putin, de enviar tropas para a Ucrânia. As autoridades russas culparam os ucranianos pelo ataque, mas o governo do país negou envolvimento.