As administrações regionais da Nigéria começaram a divulgar, na tarde deste domingo (26), os primeiros resultados das imprevisíveis eleições presidenciais, realizadas no sábado no país mais populoso da África, onde a lentidão da apuração motivou acusações de fraude.
Cerca de 90 milhões de nigerianos estavam habilitados a votar no sábado em um pleito que no geral transcorreu de maneira tranquila, exceto por casos isolados de violência, e despertou esperanças de mudança, especialmente entre os jovens.
Algumas administrações de diferentes estados nigerianos anunciaram os primeiros resultados, mas a apuração é um processo lento e continuará na segunda-feira. A Nigéria é dividida por 36 estados e o território da capital federal, Abuja.
A lentidão do anúncio avivou os temores de manipulação de votos, com a lembrança ainda fresca das acusações de fraude na eleição anterior.
O candidato da oposição, Atiku Abubakar, pediu neste domingo à Comissão Eleitoral que anuncie os resultados o mais rapidamente possível e acusou alguns governadores regionais de subverter o processo eleitoral.
"Seria um desserviço aos nigerianos e uma negação da democracia se alguém distorcer a vontade do povo", afirmou em nota Abubakar, ex-vice-presidente da Nigéria, que disputa as eleições presidenciais pela sexta vez.
- Críticas à Comissão Eleitoral -
O candidato do Partido Trabalhista, Peter Obi, a surpresa desta campanha presidencial, acusou a Comissão Eleitoral de se negar a fornecer os resultados de algumas regiões mais populosas, como a de Lagos.
A Comissão admitiu em um comunicado a ocorrência de "problemas técnicos", devido ao uso de novas tecnologias para evitar fraudes, mas assegurou que os resultados "não poderão ser falsificados".
Os candidatos dos principais partidos são o ex-governador de Lagos, Bola Tinubo, de 70 anos, do Congresso de Todos os Progressistas (APC), e o ex-vice-presidente Abubakar, de 76, candidato do Partido Popular Democrático (PDP).
Um terceiro candidato, Obi, de 61 anos emergiu com uma mensagem de mudança.
Após duas legislaturas do presidente Muhammadu Buhari, do APC, muitos cidadãos esperam que um novo líder consiga combater a insegurança, o desemprego e a pobreza crescente no país.
- Possível segundo turno -
Em meio à emoção e à incerteza suscitadas por este pleito, muitos eleitores se mantiveram em vigília desde a noite de sábado para "proteger" seu voto.
"Nós nos sentimos felizes esta manhã, assistimos a uma das eleições mais pacíficas vividas na Nigéria", comemorou Orubibi Digboho, mecânico de 27 anos, em Lagos.
A disputa acirrada levou alguns analistas a antecipar um segundo turno sem precedentes entre os dois candidatos mais votados.
Para chegar à Presidência da Nigéria, o candidato deve ser o mais votado e obter pelo menos 25% dos votos em dois terços dos 36 estados do país.
Se nenhum candidato alcançar este percentual, um segundo turno será realizado 21 dias depois entre os dois candidatos mais votados.
As regras refletem a realidade do país, dividido entre o norte, de maioria muçulmana, e o sul, de maioria cristã, com três grandes grupos étnicos: os iorubá no sudoeste, hausa/fulani no norte e igbo no sudeste.
Teoricamente, nestas eleições os dados compilados nos aproximadamente 176.000 centros de votação do país deveriam chegar mais rapidamente a Abuja, graças à transferência eletrônica - tecnologia testada pela primeira vez em nível nacional.
Mas a votação começou tarde devido a dificuldades técnicas com o sistema de identificação dos eleitores.
Na Nigéria, as eleições costumam ser ofuscadas por ataques e confrontos entre grupos rivais, embora a votação de sábado tenha sido em geral pacífica.
A violência foi um dos principais temas de campanha, após 14 anos de insurgência islamita no nordeste do país - que provocou o deslocamento de dois milhões de pessoas -, da presença de milícias na mesma região e de separatistas armados no sudeste.
Estas eleições são consideradas cruciais: com 216 milhões de habitantes, a Nigéria deve se tornar o terceiro país mais populoso do mundo até 2050, ao mesmo tempo que a região da África Ocidental está ameaçada por um forte declínio democrático e pela propagação da violência jihadista.
* AFP