A Rússia lançou um novo ataque aéreo na Ucrânia na quinta-feira (26) que matou pelo menos 11 pessoas e provocou cortes de energia, um dia depois de os aliados ocidentais de Kiev terem concordado com o envio de tanques pesados para resistir às tropas de Moscou. O Kremlin afirmou que esta entrega de equipamento pesado representa o envolvimento direto das potências ocidentais no conflito e intensificou a ofensiva em várias áreas da região de Donetsk, no leste da Ucrânia.
A Rússia fez um ataque aéreo com 55 mísseis contra alvos na Ucrânia. Segundo o general Valeri Zalujni, comandante das Forças Armadas ucranianas, foram utilizados diversos armamentos, incluindo o modelo hipersônico Kinjal, lançado de interceptadores MiG-31K. Ele afirmou que 47 dos projéteis mais lentos, como modelos de cruzeiro Kalibr, foram derrubados.
"Estamos falando de mísseis aéreos e marítimos (X-101, X-555, X-47, Kinjal, Kalibr, X-59). Lançamentos de aeronaves Tu-95, Su-35, MiG-31K e navios do Mar Negro", escreveu Zaluzhnyi no Telegram.
Os mísseis hipersônicos são armamentos mais precisos, capazes de cobrir grandes distâncias e de mais difícil interceptação. Eles foram usados pela primeira vez na guerra em março do ano passado. Não está claro qual foi o alvo dessa vez.
Ao todo, o país registrou 11 mortes. Odessa, o maior porto ucraniano, ficou sem energia e água. Houve ao menos um morto em Kiev e, em Vinnitsia, no oeste do país, foram registradas seis grandes explosões. Não está claro onde foi empregado o Kinjal, uma das "armas invencíveis" reveladas por Putin em 2018 e já utilizada no conflito.
"O objetivo dos russos segue inalterado: pressão psicológica sobre os ucranianos e destruição de infraestrutura crítica. Mas nós não podemos ser quebrados", escreveu o general no Twitter. Enquanto isso, forças de Putin têm feito avanços lentos no sul e no leste do país.
Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, voltou a criticar o Ocidente e sua promessa de entrega de armas pesadas. Segundo ele, as autoridades russas não concordam com as palavras dos líderes ocidentais de que o fornecimento de armas à Ucrânia, como as doações de tanques anunciadas na quarta-feira, não significa envolvimento no conflito.
— São constantemente ouvidas declarações de capitais europeias e de Washington de que o envio de vários sistemas de armas, incluindo tanques, para a Ucrânia não significa de forma alguma o envolvimento desses países ou da aliança Otan nas hostilidades que ocorrem na Ucrânia. Discordamos veementemente disso — disse Peskov.
— Em Moscou, tudo o que a aliança e as capitais que mencionei estão fazendo é percebido como envolvimento direto no conflito. Vemos que está crescendo — acrescentou o porta-voz.
Tanques até abril
Na quarta-feira, os Estados Unidos e a Alemanha anunciaram o envio dos tanques Abrams M1 e Leopard 2 para a Ucrânia, acompanhados por anúncios de outros países de planos de também fornecer armas pesadas.
Mesmo antes dos tanques de alta tecnologia, a lista de veículos blindados leves modernos doados à Ucrânia nas últimas semanas já era vasta. Desentendimentos travavam as doações dos tanques havia várias semanas.
A Alemanha impunha como condição para enviar os Leopards — e também para permitir o envio do mesmo equipamento por outros países europeus, pois, como país-fabricante, o governo alemão tem o direito de veto a exportações — que os EUA a acompanhassem. Berlim acabou vitoriosa na disputa política. Nesta quinta-feira, o Ministério da Defesa alemão anunciou que os 14 de seus Leopards serão enviados entre o fim de março e o início de abril.
Ainda não se sabe quando começará o treinamento para o uso dos Leopards. A Defesa alemã afirmou que a capacitação para o manuseio dos blindados leves Marder começa ainda em janeiro e, para os Leopards, "um pouco mais tarde". Na noite de quarta-feira, a Casa Branca afirmou que o treinamento nos tanques Abrams começará em "semanas, não meses".
As doações, que se somam a anúncios britânicos prévios do fornecimento de tanques Challenger 2, impõem um desafio logístico à Ucrânia, que precisará treinar soldados para usar três novos tipos diferentes de tanques pesados. Sobretudo os americanos, que consomem muito combustível, exigem grande apoio operacional.
A principal força entre as doações dessa remessa deve ser o Leopard 2, por ser mais fácil de manter e adequado para as condições ucranianas e por chegar em maior número. As estimativas apontam que a quantidade total desse tipo de tanque deve ficar em torno de cem, o correspondente a uma brigada.
Mais importante é a sinalização de que os aliados da Ucrânia estão dispostos a enviar mais armas pesadas. Os líderes ocidentais enfatizaram repetidamente que a Otan não se tornará participante direta do conflito militar e não enviará tropas para a Ucrânia, mas as armas enviadas são cada vez mais de alta tecnologia.
Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, disse que conversou com o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Zbigniew Rau, sobre caças, um pedido feito à Otan desde o início da guerra. Yuri Sak, que assessora o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksi Reznikov, disse que os caças seriam "o próximo grande obstáculo".
— Se os conseguirmos, as vantagens no campo de batalha serão imensas. Não são apenas os F-16. Aeronaves de quarta geração, é isso que queremos — disse ele.
Até aqui, a Ucrânia recebeu apenas aviões da era soviética e peças sobressalentes para equipar a Força Aérea. Recentemente, no entanto, o governo holandês disse que avaliaria a transferência de alguns de seus 50 caças em coordenação com aliados.
Em resposta à transferência de tanques, o deputado da Duma Estatal da Crimeia, Mikhail Sheremet, propôs mudar o status jurídico da guerra, ainda considerada como uma "operação especial". Segundo ele, isso permitirá à Rússia criar uma "zona tampão". Por sua vez, o Kremlin disse que não havia tais planos.