Ao menos 29 pessoas morreram durante confronto entre polícia e narcotraficantes em Sinaloa, no México, depois da prisão de Ovídio Guzmán, chamado de El Ratón, filho do líder do Cartel de Sinaloa, Joaquín El Chapo Guzmán.
Aeroportos e estradas foram bloqueados e a cidade de Culiacán registra atos de vandalismo e fechamento do comércio. O Cartel de Sinaloa, também conhecido como Cartel do Pacífico, é considerado pela agência antidrogas dos Estados Unidos, a DEA, como o principal responsável pelo tráfico de fentanil — um opiáceo sintético 50 vezes mais potente que a heroína cujo consumo tem crescido nos últimos anos nos Estados Unidos.
Entre 2016 e 2022, o porcentual de mortes por overdose de fentanil frente ao total de mortes por overdose nos Estados Unidos saltou de 36% para 88%. El Ratón é considerado por analistas como um dos mentores dessa migração de negócios do cartel de outras drogas como a cocaína e a heroína para o fentanil.
Segundo o secretário de Defesa do México, Luis Cresencio Sandoval, dos 29 mortos, 10 pertenciam às Forças Armadas mexicanas e 19 a grupos ligados aos cartéis. Ao menos 35 pessoas ficaram feridas e 21 suspeitos foram presos.
A operação durante e após a prisão de El Ratón entre a madrugada de quinta e a manhã desta sexta-feira (6) envolveu 3.586 integrantes das Forças Armadas, que também combateram a violência desencadeada nas ruas de cidades como Culiacán, Los Mochis e Mazatlán.
Pressão dos Estados Unidos
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, um crítico de operações violentas para deter narcotraficantes no país, negou que os Estados Unidos tenham participado da prisão de El Ratón, mas ela ocorre a poucos dias de uma visita do presidente Joe Biden ao país.
Os Estados Unidos ofereciam US$ 5 milhões pela captura do filho de El Chapo, transferido após a prisão para uma penitenciária na Cidade do México em um avião da Força Aérea.
O ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, descartou a extradição e negou que a captura seja um gesto do governo para agradar Biden. Segundo Ebrard, o pedido de prisão partiu de um processo no México no qual El Ratón é acusado.
— O que vamos ver é um processo no México de acordo com a lei — disse.
López Obrador também comemorou o fato de não ter havido mortes de civis nos confrontos. Apesar disso, Culiacán viveu um dia de violência similar aos das grandes operações contra o Cartel de Sinaloa.
Caos e terror em Sinaloa
A captura do narcotraficante de 32 anos provocou tiroteios entre criminosos e membros das forças de segurança em diversos pontos de Culiacán, capital do estado de Sinaloa. Um desses aconteceu próximo ao aeroporto internacional da cidade, com um avião de passageiros sendo atingido por uma bala pouco antes de decolar, assim como uma aeronave da Força Aérea, informaram a Aeromexico e a Secretaria de Comunicações e Transportes.
As operações no terminal aéreo foram suspensas e, de acordo com a rede britânica BBC, mais de cem voos foram cancelados em três aeroportos no Estado. Não houve feridos.
Todas as entradas da capital de Sinaloa e outras cidades foram bloqueadas. O reverendo Esteban Robles, porta-voz da diocese católica romana de Culiacán, relatou uma atmosfera de incerteza e tensão entre os moradores, que estão presos em suas casas.
— Muitas ruas ainda estão bloqueadas pelos carros que foram queimados — relatou Robles.
O governo municipal de Culiacán alertou: "Não saia de casa! A segurança dos cidadãos de Culiacán é o mais importante". Escolas, governo local e muitas empresas privadas fecharam suas portas. As autoridades suspenderam as aulas em instituições educacionais, um jogo da liga de futebol profissional e um jogo de beisebol.
Oscar Loza, ativista de direitos humanos em Culiacán, descreveu a situação como tensa, com alguns saques em lojas. No Sul da cidade, onde Loza mora, as pessoas relataram comboios de homens armados se movendo em direção a uma base militar. Ao menos 19 pontos da cidade foram bloqueados por homens armados. Também foram registrados incidentes em uma penitenciária onde vários narcotraficantes estão presos.
Cerco ao narcotráfico
El Ratón já havia sido detido em 17 de outubro de 2019 em Culiacán, mas foi libertado por ordem do presidente mexicano em meio ao caos provocado pela organização criminosa após sua captura. Na época, López Obrador defendeu a decisão, afirmando que um banho de sangue tinha sido evitado, pois contingentes militares estavam cercados por civis com armas de grosso calibre.
Esta é a prisão mais importante de um traficante mexicano desde que Rafael Caro Quintero, o "Narco dos Narcos", que liderou o extinto cartel de Guadalajara e é reivindicado pelos Estados Unidos, foi preso em 15 de julho de 2022.
A violência em Culiacán ocorreu paralelamente às operações em Ciudad de Juárez, na fronteira com os Estados Unidos, quando foi morto Ernesto Piñón, conhecido como El Neto, que escapou junto com outros 24 prisioneiros de uma cadeia da cidade no domingo (1º).
Durante o ataque à prisão para resgatar Piñón e as operações destinadas a recapturar os fugitivos, pelo menos 26 pessoas morreram: 10 guardas prisionais, sete prisioneiros, dois policiais e sete supostos atiradores. El Neto liderou uma gangue associada a um cartel de drogas.