Viktoria Lukovenko preparava uma salada neste sábado (31), quando explosões a fizeram correr para um abrigo no metrô de Kiev, capital da Ucrânia. Duas horas depois, quando o alerta aéreo foi suspenso, ela voltou para casa terminar os preparativos, decidida a não permitir que mísseis russos arruinassem seus planos para celebrar o Ano-Novo.
— Vamos comemorar o Ano-Novo com nossos amigos. Acho realmente incrível que até mesmo nestas condições nos permitimos celebrar — disse à Agence France-Presse (AFP) a estudante de 18 anos.
Os disparos deste sábado mataram um homem na capital ucraniana e feriram cerca de 20 pessoas, informaram as autoridades. Também foram registrados bombardeios nas regiões de Mikolaiv (sul) e Khmelnitskyi (oeste).
No entanto, em Kiev, os moradores afetados por 10 meses de guerra asseguraram que não tinham a intenção de alterar seus planos de comemorações, muitas delas reuniões durante toda a noite por causa do toque de recolher que dura das 23h às 5h.
O cineasta Yaroslav Mutenko, de 23 anos, estava no banho quando uma explosão destruiu a fachada do hotel Alfavito, de quatro estrelas, perto de seu prédio. Ao ver socorristas isolando a rua, cheia de escombros em frente ao hotel, Mutenko disse à AFP que também irá para a casa de um amigo.
— Nossos inimigos, os russos, podem abalar nossa calma, mas não podem destruir nossa mente — afirmou.
Para Kirilo Timoshenko, chefe-adjunto da Presidência, a ideia da Rússia de uma comemoração de Ano Novo parece implicar "imagens de prédios residenciais destruídos na Ucrânia".
"O criminoso de guerra, Putin, comemora o Ano Novo matando gente", publicou no Twitter o ministro ucraniano de Assuntos Exteriores, Dmytro Kuleba.
"É importante estar aqui"
Quando os alertas aéreos são ativados, os moradores de Kiev se amontoam nas estações do metrô. Algumas mulheres já estão vestidas com as tradicionais saias bordadas com cores vivas que usarão nas comemorações.
Khristina, uma analista financeira de 30 anos - que só aceitou dar o primeiro nome -, informou à AFP que atualmente mora na Noruega, mas não lamenta ter voltado para casa para passar as férias.
— É importante estar aqui (na Ucrânia) — declarou.
No ano passado, seus amigos tinham organizado uma festa de Ano Novo com o tema dos vikings, mas desta vez preveem uma reunião mais discreta, com menos convidados.
Os ataques deste sábado despertaram preocupação pela possibilidade de ocorrerem novos cortes de energia, que mergulharam milhões de pessoas na escuridão nas últimas semanas.
Evgueni Starovoytov, de 45 anos, conta ter planejado uma noite tranquila em casa, com a família, acostumada aos cortes de luz.
— Tem suas vantagens. Sem conexão, podemos brincar e conversar — brincou, acrescentando que normalmente é difícil tirar o filho de sete anos da frente das telas.
No entanto, nem todo mundo compartilha seu bom humor. Atrás do posto onde vende caviar, Oleksi Tikhonov, de 40 anos, lamenta a falta de clientes.
— O clima não está para festas e as pessoas não têm dinheiro — lamentou.
Ele tem um único desejo para o próximo ano: a vitória.
— O essencial é que vençamos o quanto antes — resumiu