Entre 2019 e 2021, o número de pessoas em situação de fome cresceu em 13,2 milhões, atingindo 56,5 milhões de habitantes na América Latina e no Caribe, em razão de alta dos preços de alimentos e do aumento da pobreza extrema. As informações foram divulgadas nesta terça-feira (6), em relatório conjunto da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Programa Alimentar Mundial (PAM).
O conteúdo foi apresentado pelas três instituições da Organização das Nações Unidas (ONU) na sede da Cepal, em Santiago, no Chile, e foi elaborado "em resposta à crise alimentar mundial".
Segundo as instituições, em 2021, a insegurança alimentar atingiu 40,6% da população da América Latina e do Caribe: 267,7 milhões de pessoas; 62,5 milhões a mais do que em 2019, antes da pandemia.
Conforme o relatório, o aumento da inflação dos alimentos e o crescimento da pobreza extrema são fatores que aumentam a insegurança alimentar e a fome. O maior preço dos alimentos eleva o risco de fome e a alta do preço internacional dos produtos básicos, cuja elevação média chegou a 11,7% em setembro passado, é repassada aos consumidores, apuraram os órgãos.
— Apesar de ter um superávit comercial agrícola significativo, América Latina e Caribe estão expostos a problemas de produção e comercialização e aumentos de preços decorrentes da guerra na Ucrânia — disse José Manuel Salazar-Xirinachs, secretário-executivo da Cepal.
Segundo o estudo, a maioria dos países dessas regiões importa grandes quantidades de trigo, milho e óleos vegetais, o que aumenta os riscos relacionados à guerra. Somente a Argentina é exportadora líquida de produtos agrícolas, enquanto a sub-região do Caribe é importadora líquida de praticamente todos eles. Além disso, a Cepal estima que a incidência da pobreza extrema nessas regiões aumentará 0,2 ponto percentual em 2022 e pode atingir 81,8 milhões de pessoas.
O relatório também sustenta que as várias crises internacionais dos últimos 15 anos, como as tensões comerciais entre Estados Unidos e China ou a pandemia de covid-19, comprometeram o acesso das regiões a alimentos e insumos essenciais, como fertilizantes para a agricultura regional.
— A fome aumentou 30% na região entre 2019 e 2021. A alta dependência da importação de fertilizantes e a variação dos preços dos alimentos têm um impacto negativo e inevitável nos meios de subsistência, principalmente da população rural, e no acesso a uma alimentação saudável — ressaltou Mario Lubetkin, representante regional da FAO.
Assim como aconteceu com os alimentos básicos, os preços dos fertilizantes nitrogenados e fosfatados já haviam subido consideravelmente ao longo de 2021, atingindo a agricultura da região, informou o relatório.
No Brasil, por exemplo, os fertilizantes representaram 19% dos custos de produção das culturas anuais. Ao somar os agroquímicos e o combustível, chega-se a uma média de mais de 40% dos custos.
Segundo o relatório, os países latino-americanos importam cerca de 85% dos fertilizantes que usam. Nenhuma outra região do mundo depende tanto da importação de fertilizantes e, especialmente, nenhuma outra que produza e exporte tantos alimentos.
Lubetkin recomendou o fortalecimento dos sistemas de proteção social nas áreas rurais, especialmente voltados para os agricultores familiares, e a eliminação das restrições ao comércio internacional de alimentos e fertilizantes, pois considera medidas fundamentais no processo de resposta para a crise atual.