As exportações de grãos ucranianos foram retomadas, nesta quarta-feira (2), depois que a Rússia voltou ao acordo mediado pela ONU e pela Turquia para estabelecer um corredor marítimo seguro no Mar Negro. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse ao Parlamento que "os embarques de grãos continuarão a partir das 12h, conforme planejado", depois de um telefonema entre os ministros da Defesa turco e russo.
O Ministério da Defesa russo confirmou seu retorno ao acordo após receber "garantias por escrito" da Ucrânia sobre a desmilitarização do corredor usado para o transporte de grãos.
"A Rússia considera que as garantias que recebeu até agora parecem suficientes e retoma a aplicação do acordo", declarou o ministério em comunicado.
O coordenador da ONU para a iniciativa, Amir Abdulla, saudou no Twitter "o retorno da Rússia" ao acordo. Desde que o pacto foi estabelecido, cerca de 10 milhões de toneladas de grãos ucranianos foram exportados pelo Mar Negro. O acordo permitiu aliviar a crise alimentar global desencadeada após a invasão da Ucrânia pela Rússia no final de fevereiro.
Diante dos termos, os navios que entram e saem da Ucrânia são inspecionados por uma equipe conjunta de funcionários turcos, da ONU, ucranianos e russos. Contudo, Moscou anunciou no sábado a suspensão de sua participação por tempo indefinido depois de acusar a Ucrânia de um ataque "massivo" à sua frota do Mar Negro ancorada na Crimeia.
Uma série de telefonemas nos últimos dias entre autoridades russas e turcas, incluindo um na terça-feira entre Erdogan e o presidente russo Vladimir Putin, e a mediação da ONU, parecem ter convencido Moscou a reconsiderar sua posição.
"Perigoso sem a Rússia"
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, declarou que uma "defesa confiável e de longo prazo" do corredor era necessária, enquanto seu colega russo exigiu "garantias reais" de respeito ao acordo. Em conversa com Zelensky na terça, o presidente francês Emmanuel Macron denunciou a decisão da Rússia de deixar o acordo, dizendo que "prejudicava a segurança alimentar global".
A Ucrânia rejeitou as acusações da Rússia como um "falso pretexto" para se retirar do acordo. Já o Kremlin criticou o pacto, alegando que a maioria dos carregamentos foi para a Europa, e não para países pobres onde os grãos são mais necessários.
As autoridades ucranianas rejeitaram tais denúncias, e os dados coletados por um grupo de monitoramento como parte do acordo desmentem a alegação russa. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse na segunda-feira que seria "perigoso" continuar as exportações sem o envolvimento da Rússia.
O ministério da Defesa russo explicou que obteve garantias de que Kiev "não utilizará o corredor humanitário e os portos ucranianos destinados à exportação de produtos agrícolas para realizar operações militares contra a Federação da Rússia".
Restrições de eletricidade
A Rússia respondeu ao suposto ataque à sua frota em Crimeia na segunda-feira com uma série de bombardeios maciços contra infraestruturas essenciais da Ucrânia, causando cortes de energia e água, especialmente na capital Kiev.
A operadora ucraniana Ukrenergo anunciou novas restrições de eletricidade nesta quarta, e o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, prometeu implantar mil pontos de aquecimento para que os habitantes enfrentem o inverno.
Zelensky informou que os ataques russos danificaram 40% das instalações de energia da Ucrânia, levando o país a interromper as exportações para a UE, onde os preços estão subindo. No front, o Estado-Maior ucraniano relatou combates, principalmente no leste, e bombardeios de 25 cidades no leste, centro e sul.
O governador da região leste de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, reportou a morte de quatro civis nas últimas 24 horas.
As autoridades russas de ocupação na região de Kherson anunciaram na terça-feira a retirada de milhares de pessoas da área, depois de mover quase 70 mil pessoas na semana passada. A Ucrânia denunciou as "deportações" de sua população pela Rússia.