A primeira-ministra conservadora britânica, Liz Truss, luta nesta terça-feira (18) por sua sobrevivência política, após a supressão de suas medidas econômicas pelo novo ministro das Finanças, que recebeu amplos poderes para tentar acalmar os mercados. "É difícil conceber uma crise política e econômica mais grave nos últimos tempos do que a enfrentada atualmente pelo Reino Unido", afirma um editorial do jornal conservador Daily Telegraph.
Truss enfrenta a "desonra", acrescenta o jornal, de virar a chefe de governo que permaneceu menos tempo no cargo na história moderna do Reino Unido, a menos que os deputados rebeldes do Partido Conservador optem por conceder um alívio à líder da agremiação.
E é justamente esse aval que ela tenta conseguir nesta terça-feira, com uma reunião com seu conselho de ministros e a preparação para a audiência parlamentar das quartas-feiras, que esta semana será crucial.
Na segunda-feira (17), Truss foi muito criticada por enviar a ministra das Relações com o Parlamento — e ex-candidata ao cargo de primeira-ministra —, Penny Mordaunt, para responder às perguntas da oposição após a humilhante aniquilação de seu "plano de crescimento".
— Onde está a primeira-ministra? Ela se esconde e evita as perguntas. Está aterrorizada pela própria sombra — acusou o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer.
A chefe de governo, de 47 anos, acabou aparecendo por alguns minutos, mas apenas para permanecer sentada e em silêncio. Depois, ela se reuniu com líderes do influente Comitê 1922, que comanda a bancada parlamentar conservadora, para tentar convencê-los de que continua apta para o cargo, embora não tenha mais nenhum poder, já que agora tudo está nas mãos do novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt.
"Seguir no posto"
As regras do Partido Conservador britânico protegem qualquer novo líder de um voto de censura interno nos primeiros 12 meses de seu mandato. Mas o descontentamento crescente após o primeiro mês e meio de Truss à frente do governo pode levar o partido a mudar as regras caso ela não renuncie.
Na segunda-feira, em uma entrevista à BBC, a primeira-ministra afirmou lamentar os erros cometidos com seu plano econômico. O pacote combinava grandes auxílios públicos para pagar as elevadas contas de energia elétrica e reduções drásticas de impostos, mas sem uma fonte de financiamento, exceto o aumento da já gigantesca dívida pública britânica, o que provocou grande turbulência nos mercados financeiros.
Nomeado na sexta-feira (14) em caráter de urgência para suceder Kwasi Kwarteng, político ultraliberal e grande amigo de Truss, Hunt anunciou na segunda-feira a supressão de quase todas as medidas, em uma tentativa de impedir uma desvalorização ainda maior da libra e o aumento das taxas de juros da dívida pública.
Apesar da crise, Truss se declarou determinada a "seguir no posto para cumprir com os compromissos pelo interesse nacional". As próximas eleições gerais estão previstas para o fim de 2024, e é pouco provável que os conservadores forcem o governo a antecipá-las porque o partido sofreria uma grande derrota para a oposição de esquerda, que tem vantagem expressiva nas pesquisas.
— Vou olhar as pesquisas quando nos aproximarmos das legislativas. Não há eleições gerais agora, não acredito que acontecerão antes de 2024. Quando as pessoas perceberem que nosso plano funciona para protegê-las, as suas casas e suas famílias, espero e acredito que vão nos apoiar — afirmou o presidente do Partido Conservador, Jake Berry, à Times Radio.
Ao mesmo tempo, porém, o deputado conservador Charles Walker declarou "não parecer possível restaurar a confiança com a atual primeira-ministra".
— Penso que se colocarmos a pessoa adequada no comando podemos demonstrar aos britânicos nos próximos dois anos que somos uma organização séria — disse à mesma emissora.
No campo da direita, já começaram a ser elaboradas as listas de possíveis candidatos para substituir Truss, quarta integrante do Partido Conservador a ocupar o posto de chefe de governo desde 2016, nomeada em 6 de setembro para substituir o polêmico Boris Johnson.
55% dos parlamentares conservadores defendem renúncia
Em meio ao caos político gerado por controversos planos fiscais, a maioria dos parlamentares do Partido Conservador britânico quer a renúncia imediata da primeira-ministra, segundo pesquisa do instituto YouGov. Publicado nesta terça-feira, o levantamento mostra que 55% dos membros do partido governista desejam a saída de Truss.
Já 38% dos colegas de partido preferem que a parlamentar permaneça no cargo, que assumiu há apenas seis semanas. Em entrevista à BBC, a premiê pediu desculpas pelos erros que cometeu, mas afirmou que pretende liderar os conservadores na próxima eleição geral britânica.
Outra pesquisa do YouGov mostra que 55% dos parlamentares conservadores votariam hoje no rival de Truss para o cargo de primeiro-ministro, o ex-ministro de Finanças Rishi Sunak. Apenas 25% apoiariam a atual premiê.
No começo de setembro, Truss foi eleita primeira-ministra com mais de 81 mil votos de eleitores conservadores, ante cerca de 60 mil votos para Sunak, que comandou as finanças do Reino Unido no governo de Boris Johnson.