O Quirguistão anunciou nesta sexta-feira (16) um cessar-fogo com o Tadjiquistão, após a escalada da violência na fronteira entre os dois países da Ásia Central, mas, horas depois, ambas as partes se acusaram mutuamente de terem-no violado.
Já na madrugada de sábado (horário local), o Ministério da Saúde do Quirguistão informou que a violência das últimas horas deixou 24 mortos no seu lado da fronteira, na região de Batken.
O presidente do Quirguistão, Sadyr Khaparov, e o presidente do Tadjiquistão, Emomali Rakhmon, encontraram-se nesta sexta-feira paralelamente à reunião de cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), da qual participam no Uzbequistão, e "concordaram em instruir as instituições ao cessar-fogo e retirar as forças e equipamentos da linha de contato".
O cessar-fogo entrou em vigor às 16h locais desta sexta-feira, mas as guardas de fronteira de ambos os países se acusaram mutuamente de violação do mesmo horas depois. "Apesar da reunião entre dirigentes e do anúncio de cessar-fogo, a parte quirguiz começou a disparar contra três aldeias do Tajiquistão", denunciaram os guardas de fronteira tadjiques.
"Violando os acordos alcançados, a parte tadjique voltou a abrir fogo contra posições dos guardas fronteiriços", denunciaram os colegas quirguizes, considerando que situação continuava tensa.
As duas ex-repúblicas soviéticas têm uma relação tensa por questões territoriais que abarcam quase metade dos 970 quilômetros de fronteira comum e pelo acesso à água.
Em 2021 foi registrado um número sem precedentes de confrontos entre os dois países, que deixaram mais de 50 mortos e geraram temores de que o conflito poderia se prolongar.
- Escalada -
Durante sua reunião, os presidentes do Quirguistão e do Tadjiquistão haviam pedido às suas tropas um cessar-fogo, primeiro sinal de uma possível desescalada após horas de combates intensos na fronteira.
Khaparov e Rakhmon concordaram em "criar uma comissão de investigação encarregada de estudar a causa dos incidentes", enfatizando a importância de resolver suas diferenças "por meios políticos e diplomáticos", segundo a agência de notícias tadjique Khovar.
Embora os confrontos sejam frequentes na fronteira entre os dois países, que têm uma disputa territorial há anos, os últimos ilustram uma notável escalada da violência.
A Rússia expressou "preocupação" com a situação e instou os dois lados a tomar "medidas urgentes" para acabar com a escalada.
Segundo o Quirguistão, o Tadjiquistão bombardeou nesta sexta-feira a cidade fronteiriça de Batken, localizada ao sudoeste do Quirguistão, em uma área disputada por ambos os países.
"A área ao redor do aeroporto de Batken e os arredores da cidade foram atacados por vários sistemas de lançamento de foguetes. A infraestrutura civil na cidade de Batken foi destruída", disse a guarda de fronteira do Quirguistão em comunicado.
- Dezenove mil evacuados -
Antes do anúncio do cessar-fogo, o Comitê Estatal de Segurança Nacional do Quirguistão havia relatado "confrontos intensos e violentos" na área de fronteira, e acusou o Tadjiquistão de "bombardear o território quirguiz com todo seu arsenal disponível" e de continuar enviando "equipamento pesado".
Habitantes de povoados fronteiriços fugiram da zona de combate, segundo autoridades do Quirguistão. Dezenove mil moradores dos arredores de Batken foram evacuados, segundo o braço local do Crescente Vermelho.
O Tadjiquistão, por sua vez, acusou as forças quirguizes de terem atacado com morteiros e metralhadoras uma cidade fronteiriça de seu país na manhã desta sexta-feira.
Os confrontos entre os dois países no começo da semana deixaram dois guardas fronteiriços do Tadjiquistão mortos e vários feridos dos dois lados.
* AFP