O secretário de Estado americano Antony Blinken fez uma visita surpresa nesta quinta-feira (8) a Kiev, no mesmo dia do anúncio de uma nova ajuda militar dos Estados Unidos, de quase US$ 2,7 bilhões, para a Ucrânia e seus vizinhos.
Blinken fez a viagem em segredo, sua segunda visita a Kiev desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro.
— O secretário tinha muita vontade de fazer esta viagem agora, porque é um momento muito importante para a Ucrânia — disse uma funcionária do governo americano que acompanha Blinken.
Na quarta-feira (7), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que o exército ucraniano reconquistou várias localidades tomadas pelas tropas russas na região de Kharkiv, no nordeste do país. Na semana passada, as forças ucranianas começaram uma contraofensiva no sul do país.
— Toda a assistência em termos de segurança tenta ajudar a garantir que a Ucrânia tenha sucesso na contraofensiva — disse a funcionária, que pediu anonimato.
A visita de Blinken a Kiev coincide com uma nova série de negociações do secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, com os países aliados na base de Ramstein, na Alemanha.
Austin fez referência à contraofensiva de Kiev no sul da Ucrânia e afirmou que é possível observar o "êxito demonstrável" das forças ucranianas no campo de batalha.
O secretário de Defesa anunciou um pacote de ajuda militar à Ucrânia de US$ 675 milhões, que inclui mais armas e munição para os foguetes Himars, que podem alcançar os alvos a 80 quilômetros de distância, além de sistemas de lança-foguetes do tipo GMLRS, "morteiros de 105 mm, munição de artilharia, Humvees, ambulâncias blindadas, sistemas antitanque, armas leves e muito mais", disse Austin à imprensa.
— A cada dia vemos a determinação dos aliados e parceiros de todo o mundo que estão ajudando a Ucrânia a resistir à guerra de conquista ilegal, imperial e indefensável da Rússia — acrescentou.
Além da ajuda direta a Kiev, o Departamento de Estado americano também anunciou nesta quinta-feira mais US$ 2 bilhões de ajuda à Ucrânia e 18 países vizinhos, na forma de créditos e subsídios para que comprem equipamento militar dos Estados Unidos.
"Boas notícias"
A reunião na base de Ramstein, a quinta do Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia, pretende demonstrar a "unidade e solidariedade" dos aliados da Ucrânia, de acordo com o comandante do Estado-Maior americano, general Mark Milley.
Representantes de mais de 40 países e organizações internacionais estão reunidos para abordar os desafios que o conflito representa em termos de armas.
— O consumo de munições é muito importante nesta guerra — disse o general Milley.
A artilharia é decisiva no conflito. Os exércitos ucraniano e russo se enfrentam em uma guerra de desgaste.
A Ucrânia começou na semana passada uma contraofensiva no sul do país. O presidente ucraniano afirmou em várias ocasiões que deseja recuperar "todas as regiões sob ocupação russa", incluindo a Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.
Na quinta-feira à noite, Zelensky afirmou que recebeu "boas notícias da região de Kharkiv", no Nordeste, onde há "localidades nas quais a bandeira ucraniana voltou" a ser hasteada.
Depois de mais de um semestre de resistência à invasão, o exército ucraniano lançou contraofensivas no Nordeste e no Sul, na região de Kherson que, segundo os especialistas, podem perturbar as rotas de abastecimento das tropas da Rússia.
Ainda assim, o Kremlin mantém o controle sobre uma ampla faixa do território ucraniano, nos arredores de Kharkiv, nas regiões de Donetsk e Lugansk na bacia mineira do Donbass e na costa do Mar de Azov.
A Ucrânia esgotou todas as suas armas de fabricação russa e sua defesa depende agora totalmente da ajuda militar ocidental.
A Rússia recorreu à Coreia do Norte para comprar grandes quantidades de foguetes e projéteis de artilharia, de acordo com Washington.
Menores levados para a Rússia
Zelensky não citou as localidades reconquistadas pelas tropas ucranianas, mas o Instituto para o Estudo da Guerra, com sede nos Estados Unidos e que monitora os combates, afirmou que o contra-ataque ucraniano aconteceu perto de Balakliya.
Nos territórios ocupados pelas forças russas, a Organização das Nações Unidas (ONU) disse na quarta-feira que há "alegações críveis" de que crianças ucranianas estavam sendo levadas à força para a Rússia.
Alguns ucranianos considerados próximos ao governo ou ao exército da Ucrânia também foram torturados e retirados à força do país e enviados para colônias penais russas e outros centros de detenção, afirmou a subsecretária-geral da ONU para os Direitos Humanos, Ilze Brands Kehris, durante uma reunião do Conselho de Segurança.
O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, refutou as acusações, que considerou "sem fundamento", enquanto disse que os ucranianos deixaram seu país "para se salvar do regime criminoso", o termo que Moscou usa para fazer referência ao governo de Kiev.