A comunidade internacional expressou preocupação nesta quinta-feira (25) com a retomada dos combates no dia anterior na Etiópia, onde ocorreram confrontos entre o exército federal e rebeldes da região do Tigré, após uma trégua de cinco meses.
Nem o governo etíope nem as autoridades rebeldes no Tigré - que se acusam mutuamente de ter desencadeado os últimos confrontos - indicaram se os combates pararam ou não, nem responderam às perguntas da AFP.
Em um comunicado com data de quarta-feira, as autoridades rebeldes no Tigré limitaram-se a dizer que as forças do governo "não conseguiram romper [suas] linhas de defesa".
Os combates, declarados em algumas áreas das regiões de Amhara e Afar, na fronteira com o extremo sudeste do Tigré, não pareciam ter se espalhado.
Mas esse aumento na violência - que rompeu uma trégua acordada por ambos os lados no final de março - despertou preocupação na comunidade internacional, que teme a retomada de um conflito em grande escala.
Desde o início da guerra, há 21 meses, milhares de pessoas morreram e mais de dois milhões foram forçadas a fugir de suas casas.
- Apelos internacionais -
"Informações sobre a retomada do conflito no norte da Etiópia lançam uma sombra sobre as perspectivas de paz", disse o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, que exortou "todas as partes a resolver a situação antes que ela se deteriore novamente em uma guerra total".
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, pediu a ambos os lados que "coloquem um fim definitivo no conflito".
Nesta quinta-feira, o vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores da Etiópia, Demeke Mekonnen, reiterou durante uma reunião com diplomatas que "o governo está pronto para defender a integridade territorial e a soberania da nação", segundo um comunicado.
"Mas também está determinado a usar meios pacíficos para acabar com o conflito e colaborar com organizações humanitárias", disse ele, acusando os rebeldes de continuarem "a usar suprimentos humanitários destinados a apoiar civis para fins militares, sem reconhecer as medidas de paz tomadas pelo governo".
- Discussões diretas -
Desde o final de junho, o Executivo etíope e os rebeldes no Tigré reiteraram que desejam participar das negociações de paz, mas não chegaram a um acordo sobre como realizá-las. Nos últimos dias, eles se acusaram mutuamente de planejar ataques.
O governo federal quer conversas diretas sem condições prévias, patrocinadas pela União Africana (UA).
Os rebeldes, por outro lado, condicionam as negociações ao restabelecimento dos serviços de eletricidade, telecomunicações e bancário no Tigré, e rejeitam a mediação do alto representante da UA, Olusegun Obasanjo.
Em uma carta publicada na quarta-feira, o chefe das autoridades rebeldes do Tigré, Debretsion Gebremichael, reconheceu que "duas séries de discussões diretas" ocorreram com autoridades civis e militares do governo etíope, contatos diretos que os rebeldes Tigré negavam até o momento.
A trégua alcançada no final de março facilitou a chegada gradual de ajuda humanitária por estrada ao Tigré, que estava mergulhado em uma situação próxima à fome devido ao conflito.
O conflito no Tigré eclodiu em novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército para expulsar o governo regional, que vinha desafiando sua autoridade há vários meses e que, segundo o executivo central, havia atacado bases militares na região.
Depois de recuar inicialmente, os rebeldes Tigré retomaram o controle da maior parte da região graças a uma contraofensiva em meados de 2021, durante a qual entraram em Amhara e Afar.
* AFP