O norte da Etiópia foi novamente cenário de combates entre o exército federal e os rebeldes do Tigré nesta quarta-feira (24), confirmou o governo nacional, que acusou os insurgentes de "romper" a trégua acordada há cinco meses.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar "profundamente chocado e triste" pelo retorno da violência e pediu "veementemente o fim imediato das hostilidades e a retomada das negociações de paz" entre o governo e os rebeldes.
A União Africana, com sede em Adis Abeba, se esforça há meses para levar os beligerantes à mesa de negociações. A entidade pediu uma "desescalada" e reafirmou seu "compromisso de trabalhar com as partes para concretizar um processo político de consenso".
Os Estados Unidos pediram a ambas as partes para "redobrarem seus esforços para avançar nas negociações para um cessar-fogo duradouro", afirmou um porta-voz do Departamento de Estado americano.
Em um primeiro momento, as autoridades rebeldes do Tigré acusaram o exército etíope de ter lançado uma "ofensiva em larga escala" contra suas posições. Mais tarde, o governo etíope o acusou de violar a trégua.
As forças etíopes "lançaram uma ofensiva pela manhã (de quarta-feira), bem cedo, às cinco da manhã, e defendemos nossas posições", declarou à AFP o porta-voz das autoridades rebeldes do Tigré, Getachew Reda, entrevistado pela AFP de Nairóbi.
No Twitter, Reda mencionou "uma ofensiva em larga escala" contra as "posições da frente sul" dos rebeldes do Tigré.
"Sem levar em conta as muitas ofertas de paz feitas pelo governo etíope", as forças da Frente Popular de Libertação do Tigré (TPLF) "executaram um ataque hoje às 5h00" (23h00 de terça, hora de Brasília) em uma área situada ao sul de Tigré e "romperam a trégua", disse o governo em um comunicado.
"Nossas corajosas forças de defesa e todas as nossas forças de segurança respondem o ataque vitoriosamente e de forma coordenada", acrescentou o Executivo federal, pedindo que a comunidade internacional exerça "uma forte pressão" sobre as autoridades rebeldes do Tigré.
Mais tarde, o exército etíope anunciou ter derrubado um avião que levava armas para a TPLF que havia sobrevoado o Sudão, sem informar a procedência da aeronave nem a data da ação.
- Regiões de fronteira -
Tanto o Tigré quanto as áreas limítrofes com as regiões vizinhas de Amhara e Afar estão em grande parte isoladas do restante do país. Não foi possível verificar as reivindicações feitas por ambas as partes de forma independente e nem comprovar qual era a situação no local.
Esse é um dos primeiros grandes confrontos registrados desde que os dois lados concordaram com uma trégua no final de março.
Tanto o governo como os rebeldes informaram sobre combates em torno do extremo-sudeste do Tigré, fronteira com Amhara no oeste e com Afar no leste.
"A ofensiva nesta frente [...] tenta ocupar o sul do Tigré", acusaram os rebeldes em nota.
A milícia amhara Fano -que apoia as forças federais- afirmou que os combates ocorrem nas regiões de Mehagoy de Jemed, na região Amhara, mas que, no momento, não há combates na região do Tigré. No entanto, esta informação não pôde ser verificada de forma independente.
A APDA, uma ONG ativa em Afar, afirmou que combates foram registrados em uma região de fronteira de Afar com o sudeste do Tigré.
"As forças federais estão presentes [na zona] de Yallo e expulsam" os rebeldes do Tigré para "fora de Afar", indicou a ONG.
Nos últimos dias, o governo federal e os rebeldes trocaram acusações de planejar a retomada dos combates, apesar de ambos os lados terem se pronunciado a favor da negociação.
O conflito no Tigré começou em novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército para expulsar o governo regional, que refutava sua autoridade há meses e havia atacado bases militares na região, segundo o Executivo central.
O exército etíope obteve o apoio das forças regionais, de milícias amhara e de um batalhão expedicionário da vizinha Eritreia, tropas que continuam presentes no oeste do Tigré.
Nesta quarta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a restauração imediata do cessar-fogo na Etiópia após o rompimento de uma trégua de cinco meses com os rebeldes do Tigré.
"Meu forte apelo é para o fim imediato das hostilidades e a retomada das negociações de paz entre o governo e o TPLF", disse ele.
* AFP