O Ministério Público Federal, responsável pelos casos de terrorismo e espionagem, suspeita que um oficial da reserva do exército alemão forneceu aos serviços de inteligência russos informações sobre os reservistas das Forças Armadas alemãs e sobre as consequências das sanções econômicas impostas a Moscou a partir de 2014. O homem, que será julgado por acusações de espionagem entre 2014 e 2020 em benefício da Rússia, comparece a partir desta quinta-feira (11) a um tribunal em Düsseldorf.
O oficial também teria fornecido dados sobre as obras do polêmico gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha, suspenso após a invasão russa da Ucrânia em fevereiro.
Na abertura da audiência desta quinta-feira, o réu, de 65 anos, disse que vai se manifestar na próxima audiência, marcada para 1° de setembro, segundo uma porta-voz do Judiciário.
Em caso de condenação pelo Supremo Tribunal Regional de Düsseldorf, o reservista, que teria agido por simpatia pela Rússia sem ser pago, pode ser condenado a vários anos de prisão. A sentença deve ser anunciada até dezembro.
A revista Der Spiegel afirma que o suspeito, apresentado como Ralph G., estava em contato com dois colaboradores do serviço de inteligência militar russo GRU credenciados como adidos militares na Alemanha.
O réu, segundo a publicação alemã, reconheceu os fatos, mas assegurou que desconhecia que seus contatos trabalhavam para a inteligência russa. Ralph G. era um oficial da reserva na Bundeswehr e "liderava um comando de bairro como vice-chefe", segundo a acusação.
Documentos
Sua atividade profissional civil, que não foi especificada até agora, também lhe teria facilitado a participação em vários comitês da economia alemã.
Estas duas atividades teriam permitido que, entre 2014 e março de 2020, ele transmitisse, em muitas ocasiões, documentos e informações provenientes em parte de fontes públicas e também de fontes não públicas.
Além de informações sobre as sanções, sobre o Nord Stream 2 ou sobre o exército alemão, o suspeito forneceu à Rússia "dados pessoais de oficiais militares de alto escalão da Bundeswehr e de gerentes econômicos", disse o MPF.
De acordo com a Der Spiegel, o oficial da reserva também entregou trechos de um rascunho do livro branco do governo alemão sobre as relações com a Rússia após a anexação da Crimeia em 2014.
Encontros pessoais
A comunicação com os russos aconteceu pessoalmente, por telefone e e-mail, bem como por mensagens no WhatsApp, informou a Der Spiegel. Ele teria sido recompensado com convites para eventos organizados pelos serviços do governo russo.
Esse processo ocorre em um contexto de tensões exacerbadas entre a Rússia e os países ocidentais devido à invasão da Ucrânia. Vários casos de suposta espionagem complicaram as relações entre a Rússia e a Alemanha nos últimos anos.
No final de outubro, a justiça alemã condenou um ex-funcionário de uma empresa de segurança informática a dois anos de prisão por ter entregue dados da Câmara dos Deputados alemã à Rússia. Em abril, condenou um cientista russo a um ano de prisão por ter espionado o programa espacial europeu Ariane.
A Rússia é acusada de hackear em grande escala em 2015 os computadores do Bundestag e os serviços da Chancelaria no tempo de Angela Merkel, bem como a OTAN e o canal de televisão francófono TV5 Monde.