A China prosseguiu nesta segunda-feira (8) com os exercícios militares ao redor de Taiwan, desafiando os apelos do Ocidente e do Japão para que o país conclua as maiores manobras militares de sua história nas proximidades da ilha — que os chineses consideram parte de seu território.
"O Exército Popular de Libertação (EPL) da China continuou executando exercícios conjuntos práticos e treinamento no mar e espaço aéreo ao redor da ilha de Taiwan, concentrado em organizar operações conjuntas submarinas e de ataques marítimos", afirmou o Comando Leste do exército chinês em um comunicado.
O texto não informa as zonas das manobras, nem se foram executadas com munição real.
Os exercícios deveriam terminar, a princípio, no domingo (7), de acordo com informações preliminares da Administração de Segurança Marítima chinesa. No entanto, nem China nem Taiwan confirmaram a conclusão. O ministério taiwanês dos Transportes mencionou apenas uma redução parcial das atividades.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, denunciou no sábado (6) a "total desproporção" da reação chinesa e divulgou um comunicado conjunto com seus colegas do Japão e da Austrália para pedir o fim dos exercícios.
A China iniciou as manobras com munição real em seis grandes áreas ao redor de Taiwan na quinta-feira (4), um dia após a visita da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à ilha.
Em resposta à viagem de Pelosi, a segunda na linha de sucessão presidencial americana, a China suspendeu a cooperação com os Estados Unidos em vários temas cruciais, incluindo a luta contra a mudança climática e questões de defesa. Também mobilizou aviões de combate, navios de guerra e mísseis balísticos ao redor de Taiwan, o que analistas consideraram uma simulação de bloqueio e invasão da ilha.
As manobras permitiram testar "táticas de guerra de sistemas baseados em informações e aperfeiçoar e melhorar as capacidades de destruição de alvos insulares estratégicos com ataques de precisão", declarou o oficial da Força Aérea chinesa Zhang Zhi, citado pela agência estatal Xinhua.
Ao mesmo tempo, a China anunciou novas manobras no Mar Amarelo, localizado entre o continente e a península da Coreia, até 15 de agosto.
"Simular ataques à ilha"
"No domingo, a China realizou exercícios práticos conjuntos no mar e no espaço aéreo ao redor da ilha de Taiwan, como estava previsto", informou o exército. "Os exercícios tinham como objetivo testar o poder de fogo conjunto em terra e as capacidades de ataque aéreo de longo alcance", acrescentou.
A China considera que Taiwan, uma ilha de 23 milhões de habitantes, é uma província que ainda não conseguiu reunificar com o restante de seu território após o fim da guerra civil chinesa (1949).
O ministério da Defesa de Taiwan confirmou que a China enviou "aviões, navios e drones" ao redor do Estreito de Taiwan, "simulando ataques à ilha principal". A pasta detectou 66 aviões e 14 navios no estreito que separa a China continental da ilha, incluindo 22 que cruzaram a linha média, que divide o espaço marítimo.
A China não reconhece esta linha, que foi traçada de maneira unilateral pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Um drone chinês sobrevoou a ilha de Kinmen, a 10 quilômetros da cidade chinesa de Xiamen, o que obrigou o exército taiwanês a lançar sinalizadores, segundo as autoridades locais.
Demonstração de força
Para demonstrar como se aproximou das costas de Taiwan, o exército chinês divulgou um vídeo da costa e das montanhas da ilha filmado por um piloto. Também divulgou uma fotografia que alega ter sido feita de um de seus navios militares que patrulhava as proximidades de Taiwan, que mostra ao longe a costa da ilha.
O primeiro-ministro taiwanês, Su Tseng-chang, afirmou no domingo que "o uso brutal da força militar por parte da China perturba a paz e a estabilidade". O exército da ilha permaneceu em alerta durante as manobras chinesas e planeja iniciar os próprios exercícios a partir de terça-feira (9).
As manobras revelam que o exército chinês é cada vez mais capaz de executar um duro bloqueio de Taiwan, além de obstruir a chegada de forças americanas, segundo analistas.
— Em algumas áreas, suas capacidades podem até superar as capacidades dos Estados Unidos — disse à AFP Grant Newsham, pesquisador do Fórum Japonês de Estudos Estratégicos e ex-oficial da Marinha americana.
— Se uma (futura) batalha se limitar à zona que cerca Taiwan, a marinha chinesa é um oponente perigoso. E se americanos e japoneses não intervirem por algum motivo, será muito difícil para Taiwan — acrescentou.