O acordo firmado em Istambul entre Rússia e Ucrânia, nessa sexta-feira (22), para a exportação de grãos abre caminho para o desbloqueio de três portos da região ucraniana de Odessa. No entanto, é preciso garantir a segurança dos navios e de suas tripulações, um processo de alto custo.
O que prevê o acordo?
Segundo um funcionário das Nações Unidas, serão criados "corredores seguros" para que os navios cargueiros possam circular no Mar Negro. Além disso, "as duas partes (Rússia e Ucrânia) se comprometeram a não se atacar".
O objetivo é liberar entre 20 e 25 milhões de toneladas de grão bloqueadas nos silos da Ucrânia. Para colocar o acordo em prática, será criado um centro de coordenação e controle em Istambul, onde delegados das quatro partes envolvidas estabelecerão o calendário dos navios.
De quais portos?
Segundo a Ucrânia, as exportações poderiam começar no porto de Odessa e suas cidades-satélites de Pivdennyi e Chornomorsk.
Com quais navios?
Segundo Paul Tourret, diretor do Instituto Superior de Economia Marítima (Isemar) na França, os barcos usados seriam graneleiros, em sua maioria turcos ou gregos. Estas embarcações só podem transportar entre 20 mil e 70 mil toneladas de grãos cada uma.
Também poderão ser utilizados navios porta-contêineres dos principais armadores europeus para exportar produtos já processados na Ucrânia, como farinhas e massas, segundo fontes do setor.
As embarcações terão que ser inspecionadas em Istambul por representantes das quatro partes antes de zarpar para a Ucrânia para garantir que não carregam armas.
Como garantir a segurança?
Desde o início da guerra, uma grande parte do Mar Negro e do Mar de Azov já não está coberta pelas seguradoras marítimas. Os navios vão precisar de uma "cobertura adicional que ainda deve ser negociada", explicou Sylvain Gauden, da seguradora Scor.
— Como as seguradoras se adaptarão e assumiram esses riscos ainda será pensado. É preciso verificar como será organizado o corredor e os signatários terão que entender que medidas de segurança e meios militares existem para garantir que os barcos possam passar com segurança — explica.
Quanto custará?
No passado, os custos adicionais para passar pelo Mar Negro oscilavam entre 5 e 7% do seguro da embarcação, explicou Gauden para dar uma ideia da magnitude do custo. O seguro da carga custa entre 0,2 e 0,5% de seu valor total e pode chegar a 1% no caso de navios antigos, acrescentou.
— Como nos encontramos em uma região de conflito, vamos fixar os preços caso a caso, e dependendo da carga, podem disparar rapidamente — afirmou Mathieu Berrurier, diretor-geral da corretora Eyssautier Verlingue.
E a tripulação?
"Garantir a segurança das tripulações será fundamental se quisermos que este acordo avance rapidamente", reagiu a Câmara Internacional de Navegação (ICS).
"Ainda persistem as dúvidas sobre como (...) podemos reunir tripulações eficazes para cumprir os prazos das embarcações", acrescentou.