O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, 67 anos, que marcou a vida política de seu país na última década e que continuava muito influente, morreu nesta sexta-feira (8) vítima de um ataque a tiros durante um comício eleitoral. Poucos depois do atentado, a polícia prendeu o ex-militar Tetsuya Yamagami, um homem de cerca de 40 anos, apontado até o momento como o principal suspeito pelo crime. Yamagami foi detido nos arredores da estação de trem de Yamatosaidaiji, próximo ao local em que Abe discursava em prol da campanha eleitoral de Kei Sato, do Partido Liberal Democrata (PLD), para a Câmara Alta do Parlamento japonês.
De acordo com autoridades japonesas, Yamagami é um veterano das Forças de Autodefesa Marítima do Japão, que serviu por três anos no anos 2000. Ele é residente na cidade de Nara, ainda de acordo com as informações oficiais. A polícia informou que Yamagami teria utilizado um "equipamento semelhante a uma arma", mas não ofereceu mais detalhes. Agências de notícias citaram que poderia ser uma arma de fogo caseira. O equipamento foi recuperado no local do crime.
A motivação do atentado ainda não foi esclarecida. Imagens divulgadas do momento do ataque mostram que Abe discursava no momento em que um som similar ao de um disparo é ouvido. Um repórter da NHK, informou que aos menos dois tiros foram disparados. Conforme o jornal The New York Times, a Agência Japonesa de Gerenciamento de Incêndios e Desastres confirmou que o ex-primeiro-ministro sofreu ferimentos no pescoço e no peito.
O que se sabe até agora
O atentado
Abe, de 67 anos, fazia um discurso em um comício eleitoral organizado perto de uma estação de trem em Nara (oeste do Japão) antes das eleições para o Senado de domingo. Ele compareceu ao local para apoiar Kei Sato, um candidato de seu partido político, o Partido Liberal-Democrata (PLD, direita nacionalista), que governa o Japão. Por volta das 11h30min (23h30min de quinta-feira no horário de Brasília), um homem se aproximou de Abe por trás, de acordo com imagens da televisão japonesa que filmava o discurso. Abe caiu no chão e traços de sangue eram visíveis em sua camisa branca. O atirador foi rapidamente derrubado e preso pela polícia.
Como Abe morreu?
Abe foi levado às pressas para um hospital na província de Nara, em Kashihara, onde chegou às 12h20min (0h20min de Brasília) em estado de "parada cardiorrespiratória", informou em coletiva de imprensa Hidetada Fukushima, professor de Medicina de Emergência do estabelecimento. Apesar dos esforços para reanimá-lo, sua morte foi confirmada às 17h03min (5h03min de Brasília), segundo o médico. De acordo com a emissora estatal japonesa NHK, Abe conseguiu dizer brevemente algumas palavras para as pessoas que o cercavam após o ataque, antes de perder a consciência. Abe era casado desde 1987 com Akie, de 60 anos, de uma grande família de industriais. O casal não teve filhos.
Reações pelo mundo
Estados Unidos
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, lamentou a perda de um "líder visionário" que "elevou as relações entre (...) os Estados Unidos e o Japão aos mais altos níveis".
Rússia
"Desejo a vocês (...) coragem diante dessa perda irreparável", declarou o presidente russo, Vladimir Putin, em um telegrama de condolências dirigido à mãe e à viúva de Shinzo Abe, segundo um comunicado do Kremlin.
"As belas memórias deste homem notável viverão para sempre nos corações daqueles que o conheceram", ressaltou.
China
A embaixada chinesa no Japão afirmou que a China estava "chocada" com o ataque. "O ex-primeiro-ministro Abe contribuiu para a melhoria e o desenvolvimento das relações sino-japonesas. Expressamos nossas condolências pela ocasião de seu falecimento e expressamos nossa solidariedade à família", declarou um porta-voz da embaixada.
Otan e União Europeia
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse estar "profundamente entristecido por este assassinato hediondo". Ele elogiou "um defensor da democracia", "meu amigo e colega de muitos anos".
O Japão é um parceiro fundamental da Aliança Atlântica.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, denunciou no Twitter o "assassinato covarde e brutal" de um "grande democrata e defensor de uma ordem mundial multilateral", cujo ataque "chocou o mundo inteiro".
"Nunca vou entender o assassinato brutal deste grande homem. Japão, os europeus compartilham seu luto", reagiu, por sua vez, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na mesma rede social.
Itália
"A Itália está chocada com o terrível ataque que atingiu o Japão e seu debate democrático livre", reagiu o chefe de Governo italiano, Mario Draghi.
Alemanha
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse estar "atordoado e profundamente entristecido", afirmando estar "ao lado do Japão nestes tempos difíceis".
"É com horror que soube da notícia (...)", reagiu a ex-chanceler Angela Merkel, recordando o seu "prazer em trabalhar" com um homem com quem a relação era "imbuída de confiança".
França
"O Japão perde um grande primeiro-ministro, que dedicou sua vida ao seu país e trabalhou para trazer equilíbrio ao mundo", reagiu o presidente francês, Emmanuel Macron.
Holanda
"Guardo excelentes lembranças de nossa amizade e do trabalho que fizemos juntos", declarou o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, condenando um ataque "covarde".
Reino Unido
"Incrivelmente triste por Shinzo Abe. Muitos se lembrarão da liderança mundial que ele demonstrou em tempos difíceis", tuitou o primeiro-ministro britânico demissionário, Boris Johnson.
Coreia do Sul
"Estendo minha simpatia e condolências à família e ao povo do Japão pela perda de seu primeiro-ministro que mais tempo permaneceu no poder e político respeitado", afirmou o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, em um comunicado, condenando um "ato criminoso inaceitável".
Índia
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, decretou um dia de luto nacional no sábado em homenagem a Shinzo Abe.
"Estou chocado e entristecido além das palavras pela morte trágica de um dos meus amigos mais queridos, Shinzo Abe", escreveu no Twitter. "Somos solidários com nossos irmãos e irmãs japoneses neste momento difícil".
Turquia
"Lamento profundamente a perda do meu querido amigo Abe", reagiu o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. "Condeno aqueles que cometeram este ataque odioso".
* AFP