Em entrevista exclusiva à AFP, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, disse nesta quinta-feira (21) que Ocidente, Rússia e Ucrânia devem pôr fim ao conflito para evitar o "precipício" da "guerra nuclear".
Principal aliado de Moscou, Alexander Lukashenko permitiu que as tropas russas passassem pelo território bielorrusso para lançar a ofensiva na Ucrânia em 24 de fevereiro.
"Vamos, vamos parar. Não devemos ir mais longe. Para além disso, é o precipício, é a guerra nuclear. A gente não pode chegar lá", afirmou Lukashenko na entrevista com a AFP no Palácio da Independência, na capital do país, Minsk.
"Isso tem que parar, é preciso ouvir, parar esse caos, a operação e a guerra na Ucrânia", acrescentou o líder bielorrusso, quase cinco meses após o início da operação que Vladimir Putin justificou, acusando a Ucrânia de "genocídio" da população de língua russa e pela expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Para Lukashenko, cabe a Kiev aceitar concessões e ir às negociações. Esta é - segundo ele - a única saída para o conflito.
"Tudo depende da Ucrânia. Hoje, a peculiaridade deste momento é que a guerra pode terminar em condições preferíveis, mais aceitáveis para a Ucrânia", considerou.
As negociações anteriores, que começaram nos primeiros dias da ofensiva russa, fracassaram, cada lado responsabilizando o outro por isso.
- Territórios ocupados, territórios perdidos -
Kiev tem de aceitar "nunca abrigar no território da Ucrânia armas que possam ameaçar a Rússia". "O mais importante é a segurança da Rússia", defendeu.
O presidente recordou que Putin alertou que seu Exército não estava utilizando toda sua força na Ucrânia.
"A guerra em curso ainda não é tudo o que a Rússia pode fazer", declarou, referindo-se às armas "temíveis" que Moscou ainda não colocou em campo.
Ele acredita que a Ucrânia tem de aceitar que perdeu as regiões ocupadas pela Rússia no leste e no sul.
"Poderia haver dúvidas em fevereiro, ou março, mas agora é indiscutível", disse ele.
Lukashenko acusou o Ocidente de provocar a guerra, considerando que a ameaça que pairava sobre a Rússia era tamanha que deveria atacar seu vizinho.
"Vimos que as causas desta guerra, a causa é que, se a Rússia não tivesse se antecipado à Otan, vocês (ocidentais) teriam se organizado e teriam atacado", frisou.
"Vocês estão na origem e estão prolongando esta guerra", acusou o líder bielorrusso.
E, segundo ele, o conflito teria sido evitado se os países ocidentais tivessem dado a Putin "as garantias de segurança que ele pediu" no final de 2021 e início de 2022: a retirada da Otan para as fronteiras de 1997 (antes da ampliação para o Leste Europeu) e o fim da aproximação com a Ucrânia.
"Por que não lhe deram as garantias? Isso significa que queriam a guerra", declarou.
Quanto à participação de Belarus, Lukashenko disse que seu Exército servia de cordão de segurança à Rússia para evitar um "ataque por trás", mas que não iria ao campo de batalha.
"Sim, nós participamos da operação. Como? Bloqueando o oeste e o sudoeste para que não atacassem a Rússia por trás", disse. "Mas não matamos ninguém", acrescentou.
- Sanções "estúpidas" -
Ele afirmou, porém, que não pretende reconhecer os territórios separatistas da Ucrânia, que Moscou reconheceu para justificar sua intervenção militar, nem a anexação russa do território da Crimeia em 2014.
"O que isso traria?", apontou Lukashenko.
Apesar de o país ser muito dependente da Rússia economicamente, com fornecimento de energia e crédito baratos, o presidente bielorrusso disse que não é uma marionete de Moscou.
"Não pensem que sou uma marionete que se manipula o dia todo. Nada disso", declarou, embora tenha destacado a relação "fraternal" que tem com Putin.
Lukashenko chamou as sanções impostas à Rússia de "estúpidas", devido à enorme dependência energética da Europa e à ameaça de uma crise econômica, se o envio de gás russo for cortado.
"A situação com suas sanções estúpidas, selvagens e incompreensíveis mostra sua grande dependência dos recursos energéticos russos", insistiu o líder bielorrusso.
* AFP