A reunião preparatória para a COP15 sobre biodiversidade termina neste domingo (26) em Nairóbi com pouco progresso e obstrucionismo de vários países, incluindo Argentina, Brasil e África do Sul, segundo delegados das ONGs.
O encontro de seis dias buscou resolver as divergências em relação à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) que 196 nações negociam há mais de dois anos.
Mas o progresso é lento, lamentam tanto as ONGs como alguns delegados.
"Um progresso limitado foi feito", disse Elizabeth Maruma Mrema, secretária executiva da CBD, na coletiva de imprensa final. As delegações "chegaram a um consenso sobre vários objetivos", diz um comunicado da secretaria da CDB.
"A maior parte do tempo entrava em discussões técnicas, deixando decisões importantes não resolvidas e adiadas", disse Brian O'Donnell, diretor da Campanha pela Natureza, que pediu aos governos que "salvem esse processo".
Horas foram desperdiçadas discutindo a formulação dos documentos ou tentando introduzir elementos, em uma reunião que procurou reunir pontos de vista e refinar as decisões em discussão.
Como pano de fundo para a lenta negociação, um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, as florestas tropicais estão desaparecendo, a agricultura intensiva esgota o solo e a poluição atinge as áreas mais remotas do planeta.
"Já não é apenas um problema ecológico, mas um problema que afeta a economia, a sociedade, a saúde e o bem-estar. É um problema de segurança para a humanidade", lembrou Marco Lambertini, diretor-geral do WWF Internacional, em entrevista coletiva.
- Pouco apoio dos países do Sul -
Os países tentam adiar essas negociações baseadas em consenso, diz ele. "Começando pelo Brasil. Mas outros países estão acompanhando de perto", destaca Lambertini .Nos corredores fala-se da Argentina e da África do Sul.
Um dos principais obstáculos é a agricultura. As metas quantificadas de redução de agrotóxicos e uso excessivo de fertilizantes, presentes em uma versão anterior do texto, não estão mais incluídas.
A União Europeia quer que a questão dos agrotóxicos seja mencionada no texto, mas "há pouco apoio", segundo um delegado do Norte desenvolvido.
Por outro lado, os representantes dos países emergentes e subdesenvolvidos enfatizam a necessidade de produzir mais, em um contexto de crise alimentar, e rejeitam qualquer referência à agroecologia.
"A agricultura é responsável por 70% da perda de biodiversidade", diz Guido Broekhoven, do WWF Internacional, considerando "crucial" mudar um sistema alimentar em que 30% dos alimentos são desperdiçados.
Os países também estão divididos na questão dos recursos financeiros.
O Brasil, com o apoio de 22 países, incluindo Argentina, África do Sul, Camarões, Egito e Indonésia, renovou a demanda aos países ricos por "pelo menos 100 bilhões de dólares por ano até 2030" para ajudar os países em desenvolvimento a conservar sua rica biodiversidade.
O grupo africano também pede um fundo dedicado à biodiversidade, disse um de seus delegados.
Embora uma ampla coalizão apoie a meta de proteger pelo menos 30% do planeta, e os líderes de 93 países tenham prometido em setembro de 2020 acabar com a crise da biodiversidade, essa questão mal aparece na agenda política internacional, assim como o clima.
* AFP