O primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, parece cada vez mais perto de perder o cargo depois que a Suprema Corte anulou nesta quinta-feira (7) a dissolução da Assembleia Nacional e ordenou que seja votada a moção de censura contra ele.
Esta decisão surpreendente representa um golpe duro para o ex-astro do críquete, que chegou ao cargo em 2018 e cuja estratégia para evitar perder o poder não se consolidou.
O tribunal informou que a decisão do vice-presidente da Assembleia de não permitir um voto de confiança no domingo "é contrária à Constituição e se anula por não ter efeito legal".
"A Assembleia Nacional continua com suas sessões", acrescentaram.
A decisão foi recebida com alegria por opositores de Khan, que fizeram buzinaço nas ruas da capital, Islamabad.
Khan foi eleito com a promessa de acabar com décadas de corrupção e nepotismo, mas teve que gerenciar a fragilidade da moeda nacional, uma inflação persistente e o peso da dívida pública.
A oposição anunciou na semana passada que tinha apoio suficiente para fazer com que Khan perdesse sua maioria parlamentar.
Mas foi surpreendida pela manobra de última hora do vice-presidente do Parlamento (ligado a Khan), que rejeitou a votação da moção por considerá-la inconstitucional, já que afirmou que era uma "ingerência estrangeira".
- "Salvou o Paquistão" -
Imran Khan acusou em várias ocasiões os Estados Unidos de se intrometerem nos assuntos internos do Paquistão, com o apoio da oposição (à qual acusa de traição) e de quererem sua renúncia porque se nega a se alinhar às posições americanas em relação a Rússia e China.
E conseguiu no domingo que o presidente da República, Arif Alvi, seu aliado, dissolvesse o Parlamento, o que provocou automaticamente a convocação de eleições legislativas antecipadas em 90 dias.
Alvi pediu à oposição que nomeasse seus candidatos e à comissão eleitoral que marcasse a data para um novo pleito.
"Esta decisão salvou o Paquistão e sua Constituição. Aumentou a honra e a dignidade da Corte", reagiu o líder da oposição no Parlamento, Shehbaz Sharif, líder da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N), e que se posiciona para ser o novo primeiro-ministro, se a moção avançar.
A Suprema Corte é um órgão independente, mas ativistas de direitos humanos denunciam a influência dos militares e a administração em suas decisões.
Após a decisão, não haverá eleições no curto prazo e Khan vê dispersarem muitas de suas opções para sobreviver à moção de censura.
Desde sua independência em 1947, o Paquistão sofreu quatro golpes de Estado militares e passou mais de três décadas governado pelo exército.
Nenhum premier do Paquistão completou seu mandato.
* AFP