Já se tornou uma cena comum em Nova York: a polícia desmantelou um acampamento de pessoas sem-teto em uma calçada de Manhattan na quarta-feira (6), mas nenhum dos deslocados concordou em se mudar para um dos abrigos da cidade, considerados perigosos demais.
Com vaias de ativistas anti-despejo ao fundo e em meio a uma imponente presença policial, funcionários dos serviços de limpeza desmontaram as barracas azuis e jogaram pilhas de roupas, cobertores e outros itens acumulados em um recipiente de lixo.
A polícia prendeu vários ativistas e um sem-teto que se recusou a deixar o local, após horas de negociações em que a prefeitura ofereceu aos ocupantes a possibilidade de desmontar o acampamento e manter suas barracas.
Esses tipos de operações se multiplicaram desde que Eric Adams, o novo prefeito democrata, prometeu em março limpar o metrô dos milhares de sem-teto que ali se refugiam e acabar com os acampamentos em espaços públicos, com a promessa de realojamento decente.
É uma política que Adams justifica com o argumento de querer reativar a cidade após a pandemia, mas que setores da esquerda denunciam.
— Desperdiçar recursos em uma operação como essa, claramente exagerada, em um momento em que os orçamentos para habitação social estão sendo reduzidos, é inaceitável — disse a vereadora democrata Carlina Rivera.
Resultados pouco visíveis
Sob os andaimes que protegem precariamente o acampamento da chuva, Kevin, um afro-americano de 66 anos que não quis dar seu sobrenome, diz que recusou categoricamente uma vaga em um dos abrigos da cidade, porque foi vítima de roubo lá.
— Eu não aconselharia ninguém a ir para um abrigo. É perigoso — garantiu.
Queremos apartamentos, queremos casas, não lugares em albergues — diz outra sem-teto, Cynthia.
A pobreza é visível neste local de Manhattan chamado Alphabet City, especialmente em um parque público próximo, onde pessoas sem recursos vão e vêm.
Os sem-teto escolheram um local localizado em frente a uma paróquia luterana que oferece refeições gratuitas. O seu pároco, o reverendo William Kroeze, afirmou que "desde a covid, sobretudo nos primeiros meses, muita gente está vivendo na rua, e a fila (para refeições) tem aumentado dia após dia. É sempre muito longa".
O próprio Adams admitiu que os primeiros resultados das operações foram mistos, com apenas cinco sem-teto entre os quase 250 acampamentos concordando em ir para um abrigo, segundo seus números.
No entanto, o prefeito defendeu uma política de longo prazo, garantindo que "mais de 300" moradores de rua pediram ajuda no metrô, onde foram iniciadas as operações.