Enquanto se apressa para ajudar os refugiados ucranianos, o Ocidente não deve desviar ajuda de outros países pobres que também sofrem as consequências da guerra, alertou o líder de uma importante organização humanitária, o Conselho Norueguês de Refugiados.
"Em meus 40 anos como trabalhador humanitário, nunca, nunca vi três milhões de pessoas deslocadas pela guerra e pelo conflito toda semana durante um mês", disse seu secretário-geral, Jan Egeland, em entrevista à AFP.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro, mais de 10 milhões de pessoas - um quarto de sua população - deixaram suas casas. Delas, cerca de 3,8 milhões abandonaram o país, em um fluxo que desacelerou nos últimos dias.
A Polônia acolheu mais da metade, mas Romênia, Moldávia (um dos países mais pobres da Europa), Hungria e Eslováquia também receberam centenas de milhares cada um.
Voluntários, entidades e ONGs fazem o melhor que podem para ajudá-los.
A resposta europeia às necessidades ucranianas foi "muito boa até agora", segundo Egeland.
"O apelo da Ucrânia foi (por) 1,7 bilhão de dólares e chegou imediatamente como um apelo humanitário para financiamento. Estava completamente financiada em questão de dias", contou.
"Gostaria que tivéssemos a mesma resposta para o apelo iemenita, que se dirigia a mais pessoas que eram ainda mais pobres no Iêmen (...). Pedia 4,2 bilhões de dólares e recebemos menos que a Ucrânia", lamentou.
Lançada em 16 de março, a arrecadação para o Iêmen alcançou apenas 1,3 bilhão de dólares para ajudar 17,2 milhões de pessoas neste país em guerra à beira da fome.
"Não há dúvidas de que uma guerra na Europa é, terrivelmente, uma má notícia para os mais pobres do Sahel", disse. "Tudo ficou mais caro".
"Ao mesmo tempo, alguns doadores desviam para a Europa o financiamento de países muito pobres", denunciou.
"Em terceiro lugar, vemos a Guerra Fria agora entre potências com as quais temos que cooperar nas resoluções do Conselho de Segurança" das Nações Unidas, disse Egeland.
"Como teremos resoluções sobre a Síria no futuro se Rússia e Estados Unidos não podem mais cooperar?", questionou.
Na Etiópia, Afeganistão e Somália, trabalhadores humanitários relatam "como estão sobrecarregados, como estão estressados em emergências que surgem e com as quais ninguém parece se importar".
"Então, este é o nosso desafio: responder às grandes necessidades na Europa e especialmente dentro da Ucrânia, mas ao mesmo tempo responder igualmente às necessidades em outros lugares".
* AFP