Uma mulher invadiu na noite desta segunda-feira (14) o telejornal de maior audiência na Rússia portando uma faixa que criticava a ofensiva militar na Ucrânia, uma cena incomum em um país onde as informações são controladas.
Segundo a ONG de defesa dos direitos dos manifestantes OVD-Info, Marina Ovsiannikova é funcionária da rede. A organização informou que ela foi levada para a delegacia.
A cena ocorreu durante o principal noticiário noturno da rede Pervy Kanal, chamado Vremia, acompanhado por milhões de russos desde a época soviética. Enquanto a apresentadora Ekaterina Andreieva falava, Marina surgiu por trás, exibindo uma faixa que dizia "Não à guerra. Não acreditem na propaganda. Estão mentindo para você aqui. Os russos são contra a guerra".
A apresentadora continuou falando por alguns segundos, enquanto a manifestante gritava:
— Não à guerra!.
Em seguida, a rede exibiu uma reportagem sobre os hospitais, cortando as imagens do estúdio.
"Uma investigação interna sobre esse incidente está sendo realizada", declarou a emissora. Em vídeo gravado previamente e divulgado pela OVD-Info, Marina explica que, por seu pai ser ucraniano e sua mãe, russa, ela não vê os dois países como inimigos.
— Infelizmente, trabalhei para a Pervy Kanal nos últimos anos, fazendo propaganda para o Kremlin. Hoje, tenho muita vergonha disso — diz a funcionária. — Tenho vergonha de ter permitido que mentiras fossem ditas pela TV e de ter permitido que o povo russo fosse "zumbificado".
O vídeo se espalhou pelas redes sociais e muitos internautas elogiaram "a coragem" de Marina, em um contexto de forte repressão contra qualquer forma de dissidência.
Na tentativa de controlar qualquer informação sobre o conflito, autoridades bloquearam meios de comunicação independentes e as principais redes sociais, como Twitter e Facebook. A maioria dos russos só tem acesso à versão do governo e a de veículos como a Pervy Kanal sobre a "operação militar especial" destinada a "desnazificar" a Ucrânia e impedir "um genocídio".