O presidente de Guiné Bissau, Umaro Sissoco Embalo, assegurou nesta terça-feira que estava no controle da situação, após uma tentativa de golpe de Estado que, segundo ele, "deixou muitos mortos".
Embalo compareceu sereno perante a imprensa esta noite, após ficar preso com membros do governo no palácio governamental, cenário de horas de intenso tiroteio durante a tarde. O objetivo era "matar o presidente da república e todo o gabinete", afirmou, citando um "ato muito bem preparado e organizado".
O presidente relatou que se viu "sob um intenso tiroteio por cinco horas seguidas", juntamente com seu ajudante, dois guarda-costas e um ministro. "Houve muitas mortes", afirmou.
O chefe de Estado e os demais membros do governo foram surpreendidos no interior do palácio - sede dos ministérios onde acontecia um conselho extraordinário de ministros - por homens armados cuja motivação é desconhecida.
Embalo não identificou os autores da tentativa de golpe, mas atribuiu a mesma "às decisões aprovadas contra o narcotráfico e a corrupção". O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu "o pleno respeito às instituições democráticas do país".
"O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, acompanha com grande preocupação a situação na Guiné-Bissau, marcada por uma tentativa de golpe de Estado", disse um comunicado da UA datado em Nairóbi.
"A CEDEAO condena esta tentativa de golpe e responsabiliza os militares pela integridade física do presidente Umaro Sissoco Embalo e membros do seu governo", afirmou a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
- Pânico -
A sede do governo foi cercada por homens armados e tanto em torno do palácio, quanto nos arredores da cidade, não muito longe do aeroporto principal, militares mantinham os civis afastados.
Muitos moradores deixaram o bairro: os mercados estavam vazios e os bancos fecharam as portas enquanto veículos militares percorriam as ruas da capital.
Esta seria a quinta tentativa de golpe em menos de dois anos neste conturbado país lusófono da África ocidental.
Uma francesa de 36 anos, residente de Bissau, disse à AFP por telefone que precisou buscar os filhos na escola, que fica perto do palácio e seria fechada às pressas. Seu marido, que trabalha em um banco, recebeu a ordem de voltar para casa.
Ao passar pela sede do governo, Kadeejah Diop viu soldados armados entrando. "Fizeram sair o pessoal feminino. Havia muito pânico", relatou Kadeejah Diop. "Por enquanto, estamos enclausurados e não temos nenhuma informação", acrescentou após voltar com os filhos para casa.
- Golpes e corrupção -
A Guiné-Bissau, ex-colônia portuguesa independente desde 1974, é um pequeno país com uma população de cerca de dois milhões de habitantes e faz fronteira com o Senegal e a Guiné.
A corrupção endêmica corrói a vida política do país, que também é considerado um importante centro de tráfico de cocaína da América Latina para a Europa.
Tal como em muitos outros países africanos, as forças armadas desempenham um papel proeminente a nível sociopolítico.
Desde o início de 2020, Umaro Sissoco Embalo, ex-general do Exército, ocupa o cargo de chefe de Estado, após eleições presidenciais cujo resultado ainda é contestado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), a formação política dominante desde a independência.
O retorno à ordem constitucional é o grande compromisso do país desde 2014, apesar das repetidas turbulências, mas sem violência.
Embalo, 49 anos, selou seu destino em fevereiro de 2020 ao vestir a faixa presidencial, apesar da persistência do PAIGC em suas queixas.
No ano passado, o comandante-chefe das forças armadas havia declarado que vários de seus membros estavam preparando um golpe enquanto o presidente estava em viagem ao Brasil.
Em 14 de outubro de 2021, o general Biague Na Ntam afirmou que alguns oficiais tentaram subornar as tropas "para subverter a ordem constitucional".
* AFP