Jens Stoltenberg assumirá o cargo de presidente do Banco de Noruega no fim do ano, depois que encerrar seu mandato como secretário-geral da Otan, uma decisão anunciada nesta sexta-feira (4) pelo governo de Oslo e que provoca dúvidas sobre a independência da instituição financeira.
A nomeação acontece em um momento de grande crise entre os países ocidentais e a Rússia pela situação na Ucrânia, mas o atual comandante da Otan informou que somente assumirá a função no banco central no início de dezembro.
"Até que finalize meu mandato na Otan em 1º de outubro, vou usar todas as minhas forças e toda a minha atenção na Aliança", declarou Stoltenberg.
"Isto é absolutamente necessário em um momento no qual a Europa e a América do Norte devem permanecer unidas", acrescentou.
O economista, que se apresentou como candidato a pedido do ministério das Finanças da Noruega, agradeceu ao governo pela confiança.
O ministro norueguês das Finanças, Trygve Slagsvold Vedum, destacou em um comunicado a formação em Economia de Stoltenberg, sua compreensão da sociedade e sua experiência em gestão.
"Me esforcei para encontrar o melhor presidente do Banco Central para a Noruega e estou convencido de que Jens Stoltenberg é esta pessoa", declarou.
O secretário-geral da Otan derrotou Ida Wolden Bache, sua principal rival na disputa pelo cargo e atualmente vice-presidente do BC norueguês.
O processo de designação foi polêmico na Noruega, devido aos possíveis vínculos entre o futuro presidente do BC e a coalizão de governo, dominada pelo Partido Trabalhista.
Stoltenberg, que foi primeiro-ministro até 2013, liderou o partido entre 2002 e 2014, quando se mudou para Bruxelas para comandar a Otan.
O atual líder do partido é Jonas Gahr Støre, que foi pupilo de Stoltenberg e se afastou do processo para evitar qualquer acusação de conflito de interesses.
- Críticas -
No Parlamento, a maioria das bancadas, incluindo algumas próximas ao governo, expressou críticas à nomeação de Stoltenberg, com o argumento de que poderia minar a independência do banco central ou, pelo menos, prejudicar a percepção sobre a autonomia da instituição.
"Não é a nomeação mais inteligente dada a enorme comoção provocada por sua candidatura e as dúvidas sobre a independência do banco central", reagiu Kari Elisabeth Kaski, secretária de Economia do partido Esquerda Socialista, que em alguns momentos é aliado do governo.
Vários políticos afirmaram que solicitarão explicações ao governo sobre as informações publicadas pela imprensa a respeito de encontros nos bastidores prévios ao anúncio do nome de Stoltenberg.
Uma pesquisa divulgada em janeiro pelo canal TV2 mostrou que 66,8% dos noruegueses preferiam a designação de Wolden Bache para presidir o banco central e que apenas 25,7% apoiavam Stoltenberg, que, no entanto, é muito popular no país.
Quase 43% dos entrevistados afirmaram que não confiavam no processo de designação.
Stoltenberg substituirá o atual presidente do Banco Central, Øystein Olsen, que se aposenta aos 70 anos.
O Banco Central da Noruega é responsável pela política monetária, assim como pela gestão do enorme fundo soberano do país, o maior do mundo.
* AFP