Após uma década de obras e controvérsias com o Sudão e o Egito, a Etiópia lançou a produção de eletricidade a partir da megabarragem do Nilo Azul, um projeto multimilionário considerado o maior do setor hidrelétrico da África, apurou a AFP.
O empreendimento foi inaugurado neste domingo(20) pelo primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed.
Acompanhado por funcionários de alto escalão, ele apertou uma série de botões em uma tela eletrônica, colocando oficialmente a obra em operação.
Esta central hidroelétrica, com um custo de 4,2 bilhões de dólares (cerca de 3,7 bilhões de euros), pode gerar mais de 5.000 megawatts de eletricidade, o que significará duplicar a produção eléctrica do país africano.
A planta tem 1,8 km de comprimento e 145 m de altura. A Represa do Renascimento (GERD) está no centro de disputas regionais desde que a Etiópia lançou sua pedra fundamental em 2011.
"Esta grande barragem foi construída pelos etíopes, mas para benefício de todos os africanos, para que todos os nossos irmãos e irmãs na África possam se beneficiar dela", disse um alto funcionário que participou da inauguração.
"Este dia, pelo qual os etíopes fizeram tantos sacrifícios, esperaram tanto, rezaram tanto, finalmente chegou", acrescentou.
Outros funcionários aproveitaram a ocasião para elogiar os esforços de Abiy.
Quando o projeto foi lançado, todos os funcionários públicos etíopes foram convidados a contribuir com um mês de salário para financiá-lo. Posteriormente, muitos empréstimos públicos exigiram a poupança da população.
- Disputa regional -
Egito e Sudão, vizinhos da Etiópia, altamente dependentes das águas do Nilo, veem a barragem como uma ameaça, enquanto o governo etíope a considera essencial para a eletrificação e desenvolvimento do país.
O Ministério das Relações Exteriores egípcio lamentou neste domingo que "a Etiópia persista em suas violações da Declaração de Princípios de 2015" assinada entre os três países e que prevê a busca de uma solução negociada.
Adis Abeba trabalhou duro para convencer o Sudão e o Egito de que a represa não afetará significativamente o fluxo do grande rio, que nasce em Uganda. A ONU, após receber denúncias destes dois países, recomendou a continuação das negociações sob os auspícios da União Africana (UA).
Cairo e Cartum estão preocupados desde que o megaprojeto começou em 2011 com o eventual efeito da barragem em seu abastecimento de água. No entanto, a Etiópia avançou em julho para a segunda etapa de enchimento do lago "artificial" da barragem.
O Egito invoca seu "direito histórico" sobre o rio, consagrado em um tratado assinado em 1929 com o Sudão, representado pelo Reino Unido, então uma potência colonial.
Assim, o Cairo obteve o direito de veto quanto à construção de infraestruturas no curso do rio.
Em 1959, após outro acordo com Cartum sobre a distribuição de água, o Egito reivindicou uma participação de 66% do fluxo anual do Nilo e o Sudão 22%.
No entanto, como não era parte de tal acordo, a Etiópia está preocupada com isso.
* AFP