A cúpula anual da União Africana (UA) começou neste sábado em Adis Abeba com um apelo do primeiro-ministro palestino Mohammed Shtayyeh para retirar a credencial com o status de observador definida em julho para Israel, fonte de intensos debates entre seus 55 membros.
Essa decisão controversa do presidente da Comissão da União Africana, Musa Faki Mahamat, será debatida no domingo no final desta cúpula, marcada também pelos recentes golpes de Estado na região, além da pandemia de covid-19.
Mas a polêmica sobre Israel surigu assim que começou a reunião.
Em um discurso diante de dezenas de chefes de Estado reunidos na sede da UA, o primeiro-ministro palestino pediu para retirar esse status de Israel, classificando-o de "recompensa não merecida" devido aos abusos, segundo ele, cometidos contra o povo palestino.
"Os povos do continente africano conhecem muito bem a devastação e a desumanização que caracterizam o colonialismo e os sistemas relacionados de discriminação racial institucionalizada", disse o líder da Autoridade Palestina, enquanto observador na UA desde 2013.
"Israel não deveria nunca ser recompensado por suas violações e pelo regime de apartheid que impõe ao povo palestino", acrescentou Shtayyeh, retomando uma fórmula do relatório da Anistia Internacional publicado esta semana.
A relação com Israel é um conflito pouco comum na UA, uma organização que valoriza sobretudo o consenso.
Influentes Estados-membros da UA, como África do Sul, criticaram a decisão de conceder esse status a Israel em julho, afirmando não terem sido consultados como deveriam e destacando que a decisão contradizia declarações da União e do próprio Faki, de apoio aos Territórios Palestinos.
Neste sábado, Faki disse que o compromisso da UA com a busca palestina pela independência "não mudou e só pode continuar aumentando", mas pediu um "debate sereno".
O status de Israel pode representar, segundo disse o presidente da Comissão da UA, "um instrumento ao serviço da paz".
Se a questão do status concedido a Israel for objeto de votação no domingo, vários analistas concordam que pode abrir uma divisão sem precedentes na história da UA, que celebra seus 20 anos em 2022.
Essa cúpula permitirá abordar também a "onda desastrosa", nas palavras de Faki, de golpes de Estado no continente africano durante o último ano, o último deles há menos de duas semanas em Burkina Faso.
Quatro Estados-membros (Burkina Faso, Mali, Guiné e Sudão) foram suspensos pelo Conselho da Paz e da Segurança da UA desde junho devido a mudanças inconstitucionais de governo.
* AFP