A Ucrânia declarou, neste domingo (23), que quer desmantelar qualquer grupo pró-Rússia depois que o Reino Unido acusou Moscou de tentar impor um líder pró-russo a Kiev em meio a tensões na fronteira ucraniana.
A ministra das Relações Exteriores britânica, Liz Truss, acusou no sábado (22) a Rússia de tentar "instalar um líder pró-russo em Kiev" e de planejar ocupar a Ucrânia, acusações que a Rússia chamou de "absurdas".
A Rússia concentra dezenas de milhares de soldados na fronteira ucraniana, levantando temores de uma invasão:
"Nosso Estado continuará sua política de desmantelar qualquer estrutura oligárquica e política que possa trabalhar para desestabilizar a Ucrânia ou ser cúmplice dos ocupantes russos", disse Mykhailo Podoliak, assessor do chefe da administração presidencial ucraniana, em comentários enviados à AFP.
Por sua vez, o ministério russo das Relações Exteriores exortou o Reino Unido a parar de espalhar "disparates" e a acabar com as provocações, consideradas muito perigosas na situação atual.
A diplomacia britânica afirmou que o ex-deputado ucraniano Yevgenii Murayev é considerado um potencial candidato, mas ele não é o único, visto que os serviços de inteligência russos mantêm ligações com muitos ex-políticos ucranianos.
Reagindo a essas acusações, Murayev pediu que parem com a divisão de pró-russos e pró-ocidentais, enfatizando que seu país precisa de novos líderes políticos guiados pelos interesses nacionais da Ucrânia e do povo local.
A diplomacia britânica também mencionou os nomes de Serguei Arbuzov,primeiro vice-primeiro-ministro da Ucrânia de 2012 a 2014, depois primeiro-ministro interino, Andrei Kluiev, que chefiou a administração presidencial do ex-chefe de Estado ucraniano Viktor Yanukovych. Também de Volodymyr Sivkovytch, ex-vice-secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, ou mesmo Mykola Azarov, primeiro-ministro da Ucrânia de 2010 a 2014.
"Alguns deles estão em contato com agentes da inteligência russa que estão atualmente envolvidos no planejamento de um ataque à Ucrânia", acusou o ministério das Relações Exteriores britânico.
Os Estados Unidos consideraram essas acusações profundamente preocupantes:
"O povo ucraniano tem o direito soberano de determinar seu próprio futuro, e estamos com nossos parceiros democraticamente eleitos na Ucrânia", declarou Emily Horne, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Oração pela paz
Neste domingo, o papa Francisco declarou que acompanha "com preocupação" as tensões crescentes na Ucrânia — que ameaçam a segurança do continente europeu. Ele pediu um dia de oração pela paz na próxima quarta-feira.
O cenário de que a Rússia poderia assumir o controle de seu vizinho foi considerado como "absurdo" pelo chefe da Marinha alemã, o vice-almirante Kay-Achim Schönbach. Comentários que o levaram a ser forçado a renunciar à noite, segundo anúncio do ministério da Defesa alemão.
As declarações britânicas foram feitas poucas horas depois que o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, aceitou se reunir com o britânico Ben Wallace. Shoigu propôs que a reunião fosse em Moscou.
O encontro bilateral, o primeiro desde 2013, visa explorar todos os caminhos para alcançar a estabilidade e uma solução para a crise ucraniana, segundo uma fonte do ministério da Defesa britânico.
Acusado pelos ocidentais de ter reunido dezenas de milhares de soldados na fronteira ucraniana em preparação a um ataque, o Kremlin nega quaisquer intenções bélicas, mas vincula a redução da escalada a tratados que garantam, em particular, a não expansão da Otan.
Algo considerado inaceitável pelos ocidentais, que ameaçam a Rússia com severas sanções em caso de ataque.
Apesar das posições inconciliáveis no momento, uma distensão começou na sexta-feira entre o Ocidente e Moscou após várias semanas de escalada verbal, durante conversas em Genebra entre os chefes da diplomacia russa e americana, Serguei Lavrov e Antony Blinken.
Os dois concordaram na sexta-feira (21) em continuar suas conversas na próxima semana, dando esperança ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, de que uma invasão da Ucrânia ou uma incursão militar em seu território não acontecerá.