Os militares de Burkina Faso anunciaram na televisão nesta segunda-feira (24) que tomaram o poder após uma revolta no país africano por críticas ao fracasso do presidente em conter a ascensão dos jihadistas.
Os autores do golpe, em uniforme de camuflagem, anunciaram na televisão o "fim do mandato" do presidente Roch Marc Christian Kaboré, após um motim que começou no domingo.
Na mensagem, os soldados rebeldes também anunciaram o fechamento das fronteiras e prometeram um "retorno à ordem constitucional" dentro de um prazo "razoável".
Antes do anúncio, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a "libertação imediata" de Kaboré, uma mensagem também enviada pela União Europeia. A União Africana já tinha condenado o que era então "uma tentativa de golpe de Estado".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, "condenou fortemente" o "golpe de estado" militar. Em texto lido por seu porta-voz, Guterres demonstrou preocupação com "a proteção e a integridade física" de Kaboré, cujo paradeiro é desconhecido.
Soldados se mobilizaram em várias bases neste país africano no domingo, pedindo a saída da liderança militar e mais recursos para combater os grupos jihadistas que assolam o país desde 2015.
Kaboré, que está no poder desde 2015 e foi reeleito cinco anos depois com a promessa de tornar prioridade a luta contra os jihadistas, é alvo de críticas pelo fracasso de sua política de conter a violência de extremistas.
O partido do presidente, o Movimento Popular para o Progresso (MPP), informou que Kaboré foi vítima de "uma tentativa fracassada de assassinato" após relatos de que o presidente foi detido.
O MPP denunciou que o país "se encaminha para um golpe militar a cada hora que passa" e apontou que a residência do presidente foi "saqueada".
Um correspondente da AFP constatou que fora da residência havia veículos crivados de balas e vestígios de sangue.
Anteriormente, havia relatos conflitantes sobre o paradeiro de Kaboré.
Uma fonte de segurança indicou à AFP que o presidente, o chefe do parlamento, Alassane Bala Sakandé, e alguns membros do gabinete estão nas mãos dos soldados.
Esta informação foi confirmada por outra fonte de segurança, mas um membro do governo informou que o presidente foi retirado de sua casa por seu segurança, antes da chegada de homens armados que atiraram em sua comitiva.
- Apoio aos golpistas -
Antes do início do toque de recolher, centenas de moradores de Uagadugu foram às ruas da capital comemorar.
"É uma vitória, um novo começo para o povo burquinense após a queda de um regime incapaz", declarou à AFP Amado Zoungrana, que exibia uma bandeira de Burkina Faso, montado em uma moto.
"É uma nova página para o exército que vai entrar na história, concentrando-se no essencial, ou seja, libertar Burkina dos grupos terroristas", completou Serge Campaoré.
Burkina Faso sofreu várias tentativas de golpe de Estado. No país vizinho Mali, onde começou a insurgência jihadista, os militares derrubaram um governo civil em 2020.
Nos últimos meses, houve várias manifestações de protesto em Burkina Faso para denunciar a incapacidade das autoridades de conter o número crescente de atentados jihadistas.
Esta região da África está cada vez mais desestabilizada pelos extremistas, que também atuam no Níger e no vizinho Mali, um país que sofreu dois golpes de Estado em poucos meses.
Os militares golpistas apresentaram uma lista de demandas, enfatizando a necessidade de uma melhor estratégia na luta contra os jihadistas, mas sem mencionar a partida de Kaboré.
Os soldados pediram a substituição da liderança militar, melhor atendimento aos soldados feridos e mais apoio às famílias dos mortos em combate, disse um porta-voz dos amotinados em uma gravação enviada à AFP.
No domingo, os manifestantes apoiaram os amotinados e instalaram barricadas em várias avenidas da capital, que em seguida foram dispersadas pela polícia, constataram jornalistas da AFP.
Assim como Mali e Níger, Burkina Faso está mergulhada em uma espiral de violência atribuída a grupos jihadistas armados. Eles são afiliados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico (EI).
Em quase sete anos, a violência dos grupos jihadistas deixou mais de 2.000 mortos e 1,5 milhão de deslocados.
A chegada do presidente Kaboré ao poder em 2014 trouxe grandes esperanças para o país. Ele tomou posse um ano depois da queda de Blaise Compaoré, derrubado por uma revolta popular após 27 anos no cargo.
* AFP