Centenas de manifestantes saíram às ruas nesta terça-feira(25) na capital de Burkina Faso para expressar seu apoio aos militares, um dia após o golpe de Estado que derrubou o presidente Roch Marc Christian Kaboré, cuja "libertação imediata" foi solicitada pela ONU.
"Pedimos repetidamente a retirada do presidente Kaboré, que ignorou nossos pedidos. O exército nos ouviu e nos entendeu", celebrou Lassane Ouedraogo, manifestante de 43 anos e ativista da sociedade civil.
Alguns manifestantes carregavam bandeiras malinesas e russas, em referência à cooperação com Moscou há vários meses.
Apesar da manifestação, a situação parecia voltar à calma. O grande mercado, lojas e postos de gasolina estavam abertos e não havia uma presença militar grande no centro da cidade, observou um jornalista da AFP.
Na noite de segunda-feira, os militares anunciaram na televisão que haviam tomado o poder após uma revolta em meio a críticas ao presidente por seu fracasso em conter a ascensão de jihadistas.
Os golpistas em uniformes camuflados anunciaram na televisão o "fim do mandato" de Kaboré, no governo desde 2015.
O poder está agora nas mãos do Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (MPSR) e do seu líder, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, comandante da terceira região militar que cobre o leste do país, particularmente afetada por ataques jihadistas.
O MPSR estabeleceu o toque de recolher das 21h às 5h, dissolveu a Assembleia e suspendeu a Constituição. Também fechou as fronteiras, mas a junta militar anunciou que começaria a abrir as conexões aéreas a partir desta terça-feira.
- Incerteza -
O paradeiro do ex-presidente Kaboré permanecia desconhecido nesta terça-feira, e não se sabia se ele estava detido ou em local seguro.
O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou na terça-feira que o presidente "confirmou a ele na noite de ontem (segunda-feira) que ele estava bem de saúde e que não foi ameaçado".
A televisão nacional (RTB) divulgou uma carta manuscrita de destituição atribuída a Kaboré nas redes sociais na noite de segunda-feira, que não pôde ser autenticada.
Nela, está escrito que a renúncia foi em nome do "melhor interesse da nação".
Segundo a RTB, a carta foi transmitida diretamente pelos golpistas, sem saber se foi escrita pelo próprio Kaboré, nem em que condições.
A mesma incerteza pairava sobre a primeira-ministra Lassina Zerbo e outros funcionários do governo anterior.
Burkina Faso sofreu várias tentativas de golpe. No vizinho Mali, onde a insurgência jihadista começou, os militares derrubaram um governo civil em 2020. A revolta levantou preocupações na comunidade internacional.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu nesta terça-feira a "libertação imediata" de Kaboré, juntamento com os Estados Unidos e a União Europeia (UE).
A organização regional G5 Sahel (Mauritânia, Mali, Níger e tinha, além de Burkina Faso) expressou "preocupação com os eventos políticos e militares".
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, também disse hoje, em alusão a Burkina Faso, que "os golpes militares são inaceitáveis" e pediu aos soldados para "defender seu país, não atacar seus governos".
* AFP