Os jornalistas do site de informação CitizenNews de Hong Kong denunciaram, nesta segunda-feira (3), a deterioração da liberdade de imprensa no território, horas depois do anúncio do encerramento de suas atividades, por temores ligados à segurança de seus funcionários.
Página de informação financiada por seus usuários e fundada em 2017 por um grupo de jornalistas, o CitizenNews é uma das fontes de informação mais populares de Hong Kong, com mais de 800 mil seguidores nas redes sociais.
Em 2021, chegou a contratar jornalistas de outros veículos, depois que as autoridades aumentaram o controle sobre a imprensa.
Na tarde de domingo, o CitizenNews anunciou "com enorme dor no coração" que colocará um ponto final em suas atividades nesta terça-feira (4) e que sua página na internet será fechada "mais tarde".
"Infelizmente, não podemos seguir tentando transformar nossas convicções em realidade sem sentir medo, devido à mudança radical da sociedade nos últimos dois anos e da deterioração do ambiente midiático", escreveu o CitzenNews em nota.
Quatro dos cofundadores do CitizenNews são ex-presidentes da Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA).
A China aumentou seu controle sobre Hong Kong após as manifestações pró-democracia que sacudiram a ex-colônia britânica em 2019. Uma das maneiras de fazer isso foi reprimindo a imprensa local.
Na última quarta-feira (29), a polícia fez uma operação de busca e apreensão na redação do StandNews, um veículo similar ao CitizenNews, que anunciou seu fechamento horas depois. Sete de seus membros foram presos por "publicação sediciosa", no mais recente exemplo, até o momento, da repressão exercida no território pelas autoridades leais ao governo chinês.
Nesta segunda-feira, último dia de vida do CitizenNews, os jornalistas explicaram que a decisão de fechar as portas foi motivada pela operação policial realizada na semana passada nos escritórios do StandNews.
Embora sua redação não tenha sido revistada pelas forças de segurança, Chris Yeung, cofundador do CitizenNews e ex-presidente da HKJA, preferiu se antecipar, optando por seu fechamento.
— Fizemos o possível para não violar nenhuma lei, mas é difícil conhecer os contornos da aplicação da lei, e não nos sentimos mais seguros para trabalhar — disse Yeung. — Os jornalistas também são seres humanos que têm família e amigos — acrescentou.
— Podemos trabalhar com "notícias seguras"? Eu nem sei o que são "informações seguras" — disse a editora-chefe Daisy Li, também ex-presidente da HKJA.
Graças à grande autonomia ante Pequim, a ex-colônia britânica foi por muito tempo considerada um reduto da liberdade de imprensa na Ásia. Por esse motivo, vários meios de comunicação internacionais escolheram instalar suas sedes regionais no território.