Entre tristeza, decepção e perplexidade, ativistas dos direitos das mulheres no Afeganistão criticaram abertamente nesta segunda-feira (24) as negociações entre talibãs e as potências ocidentais na Noruega, primeiro país europeu a receber os fundamentalistas.
A delegação afegã, liderada pelo ministro das Relações Exteriores Amir Khan Muttaqi, reuniu-se nesta segunda-feira com representantes dos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, União Europeia e Noruega.
As negociações se concentram na ajuda humanitária, com mais da metade dos afegãos ameaçados pela fome desde que a ajuda internacional foi cortada depois que o Talibã chegou ao poder em agosto.
Mas para as ativistas feministas, que há meses se manifestam em defesa de seus direitos e denunciam a crescente repressão dos talibãs, essas negociações têm um gosto amargo.
"Me entristece que um país como a Noruega organize esta cúpula e faça acordos com terroristas na mesa" das negociações, disse à AFP Wahida Amiri, ativista feminista que se manifesta em Cabul desde agosto.
"O mundo deveria ter vergonha de aceitar isso e abrir suas portas para os talibãs", acrescentou.
Para não correr perigo nas ruas, muitas mulheres protestaram contra este encontro de suas casas em Cabul, Bamiyan (centro) ou Mazar-i-Sharif (norte), segundo imagens nas redes sociais.
"A Noruega convidou criminosos e terroristas que não respeitam os direitos das mulheres ou os direitos humanos", disse uma manifestante de Bamiyan à AFP, pedindo para não ser identificada.
Os talibãs alegam que são mais moderados do que no seu regime anterior, entre 1996 e 2001, mas a realidade é que muitas mulheres são excluídas do emprego público, muitas escolas para moças estão fechadas e em viagens longas as mulheres têm de ir acompanhadas por um homem de sua família.
- "O que faz a comunidade internacional?" -
Na semana passada, duas ativistas feministas, Taman Zaryabi Paryani e Parwana Ibrahimkhel, foram sequestradas de sua casa em Cabul após participarem de uma manifestação, segundo várias colegas.
Os talibãs negaram qualquer envolvimento. Convidada a Oslo pelo governo norueguês, a poetisa Hoda Khamosh pediu a Muttaqi que "exija a Cabul a libertação imediata" das ativistas.
"Por que os talibãs que estão nos aprisionando em Cabul estão sentado à mesa de negociações conosco em Oslo? O que a comunidade internacional está fazendo diante dessa tortura e repressão?", gritou. Segundo ela, aqueles que "ficam calados ou toleram o Talibã" são "parcialmente responsáveis por esses crimes".
Nenhum estado ainda reconheceu o governo talibã e a Noruega insistiu que essas negociações "não são uma legitimação nem um reconhecimento" dos novos líderes afegãos.
Para alguns observadores afegãos, essas negociações são, no entanto, necessárias.
O presidente exilado da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão (AIHRC), Shaharzad Akbar, descreveu as discussões como um "passo importante", sobretudo porque permitiram um encontro direto entre os talibãs e figuras proeminentes da sociedade civil afegã.
Outra militante presente em Oslo, Mahbuba Seraj, disse ter "esperança" após essas reuniões e garantiu que o talibãs "nos reconheceram e nos ouviram".
* AFP