O presidente da Somália, Mohamed Abdullahi Mohamed, anunciou nesta segunda-feira (27) que suspendeu o primeiro-ministro Mohamed Hussein Roble, um dia depois de um conflito entre os dois sobre as aguardadas eleições no conturbado país africano.
"O presidente decidiu suspender o primeiro-ministro Mohamed Hussein Roble e retirar seus poderes porque ele está vinculado a [casos de] corrupção", afirmou, em nota, o gabinete da presidência, que acusa o chefe de Governo de interferir na investigação de um caso de apropriação de terras.
Mohamed Hussein Roble respondeu imediatamente, acusando o presidente de buscar um "golpe contra o governo, a Constituição e as leis do país".
"Como o presidente aparentemente decidiu destruir as instituições governamentais [...] ordeno que todas as forças nacionais da Somália trabalhem sob a liderança do gabinete do primeiro-ministro a partir de hoje", disse Roble durante uma entrevista coletiva de seu gabinete, onde conseguiu entrar apesar da forte presença militar na parte externa do edifício.
A relação entre o presidente, conhecido como Farmajo, e Roble é tensa, e o embate mais recente entre os dois provocou temores a respeito da estabilidade da Somália.
"O primeiro-ministro está decidido a não ser dissuadido por ninguém no cumprimento de seus deveres nacionais, com o objetivo de liderar o país rumo a eleições que abrirão o caminho para uma transferência pacífica de poder", afirma um comunicado divulgado pelo gabinete de Roble.
- EUA: 'profundamente preocupado' -
Presidente desde 2017, Farmajo viu seu mandato expirar em 8 de fevereiro, sem conseguir chegar a um entendimento com as lideranças regionais para a organização de eleições.
A Somália não realiza eleições diretas há 50 anos e tem um sistema indireto complexo. A organização das eleições foi afetada nos últimos meses por várias circunstâncias.
Em abril, combatentes pró-governo e opositores trocaram tiros nas ruas de Mogadíscio, depois que Farmajo ampliou por dois anos seu período de governo, sem organizar eleições.
A crise constitucional foi aplacada quando Farmajo recuou na decisão e Roble negociou um calendário eleitoral.
Mas, nos meses seguintes, a rivalidade entre os dois políticos afetou novamente a votação.
Farmajo e Roble concordaram em fazer as pazes em outubro e defenderam a aceleração do processo eleitoral.
No domingo, o governo dos Estados Unidos afirmou que estava "profundamente preocupado com os contínuos adiamentos e irregularidades de procedimentos que minaram a credibilidade do processo eleitoral" no país africano.
Analistas afirmam que a disputa política impede a Somália de manter o foco em seus problemas mais importantes, como a insurgência do grupo terrorista Al Shabab.
O movimento, aliado da Al-Qaeda, foi expulso de Mogadíscio há 10 anos, mas ainda controla as zonas rurais e executa ataques mortais.
* AFP