A pandemia de covid-19 foi responsável pelo aumento no número de mortes por malária em 2020, apesar de o pior cenário ter sido evitado graças à atuação das autoridades sanitárias.
"Apesar das restrições e das perturbações ligadas à pandemia de covid-19, os países onde a malária é endêmica conseguiram evitar o pior cenário que muitos, inclusive a OMS, haviam previsto. E isso é uma mensagem muito positiva", ressaltou o doutor Pedro Alonso, diretor do programa sobre a malária na Organização Mundial da Saúde.
Contudo, ao interromper os programas de prevenção, detecção e atenção da enfermidade, a pandemia foi responsável por 47.000 das 69.000 mortes adicionais em 2020.
No ano passado, a malária afetou 241 milhões de pessoas em todo o mundo, 14 milhões a mais que em 2019. Deste total, 627.000 pessoas faleceram.
Transmitido por mosquitos, o plasmódio, o parasita que causa a enfermidade, provoca febre, dor de cabeça, dor muscular e calafrios.
Se não for tratada a tempo, a malária, em particular o parasita que causa a doença na África - o Plasmodium falciparum - pode ser mortal.
Apesar dos progressos que permitem que muitos países prevejam a erradicação da doença em um futuro próximo, o mesmo não se pode dizer da África Subsaariana, onde, pelo contrário, a situação está piorando, assinalou a OMS em seu relatório.
A África concentra 95% dos casos de malária do mundo e 96% dos óbitos relacionados com a doença. Entre as fatalidades, 80% são crianças menores de 5 anos.
As infecções aumentaram em 15 milhões de casos entre 2019 e 2020, chegando a 228 milhões. O número de mortos também aumentou e passou de 534 mil a 602 mil em um ano.
"Creio que estamos à beira de uma possível crise de malária", advertiu Alonso, que pediu uma nova mobilização contra o que continua sendo "um enorme problema de saúde pública mundial e que é preciso enfrentar de frente, nos países onde a doença continua sendo endêmica".
Em 2021, China e El Salvador erradicaram totalmente a enfermidade. Além disso, entre 2000 e 2020, um total de 23 países não registraram um único caso local em três anos.
- Vacina -
Outra boa notícia: a junta diretora da Aliança para as Vacinas (Gavi) autorizou na semana passada a implementação de um programa para imunizar as crianças contra a malária na África Subsaariana e liberou uma quantia inicial de 155,7 milhões de dólares, segundo um comunicado da organização.
Desde 2019, três países da África Subsaariana - Gana, Quênia e Malawi - começaram a introduzir a vacina "RTS,S" em regiões selecionadas, onde a transmissão da malária é moderada ou severa.
Dois anos depois do início do primeiro teste em grande escala do mundo, foram administradas 2,3 milhões de doses da vacina.
Fabricada pela farmacêutica britânica GSK, a "RTS,S" é a primeira e única vacina que demonstrou, até agora, a sua eficácia para reduzir significativamente o número de casos de malária, inclusive a malária grave e potencialmente mortal, nas crianças.
* AFP