De aparência austera e tímida, Zhang Gaoli era um dos líderes mais discretos do regime comunista chinês. Mas, aos 75 anos, o ex-vice-primeiro-ministro se vê no centro de um escândalo sexual com repercussão mundial. A estrela do tênis da China, Peng Shuai, o acusa de tê-la forçado a uma relação sexual três anos atrás. A jogadora tem paradeiro desconhecido desde o início de novembro, quando fez a denúncia pelas redes sociais.
Pressionada, a China intermediou, no último domingo, uma videoconferência entre Peng e presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomoas Bach. Na conversa, a ex-número um do mundo em duplas afirmou que estava "bem".
Thomas Bach entrou no imbróglio porque a China será a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que ocorrerão em fevereiro em Pequim, e já há quem defenda o boicote ao torneio. Antes de deixar o poder em 2018, Zhang Gaoli liderou o grupo de trabalho na preparação da competição.
Na terça-feira (22), as autoridades chinesas afirmaram que o caso está sendo exagerado de maneira "maliciosa".
— Eu penso que algumas pessoas deveriam parar de exagerar de maneira deliberada e maliciosa, parar de politizar o tema — afirmou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian.
Por cinco anos "Zhang Gaoli manteve um perfil baixo", segundo o cientista político Willy Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong.
– Ele não se distinguiu de forma alguma e seu nome não foi associado a nenhuma conquista em particular – destaca o cientista político.
Nascido em novembro de 1946, em Jinjiang, na província de Fujian, Zhang Gaoli foi durante cinco anos membro da elite do regime chinês: o comitê permanente do Bureau Político do Partido Comunista, que tem sete membros, entre eles, o presidente Xi Jinping. Último na hierarquia deste órgão, onde era responsável pela supervisão de grandes infraestruturas, ele era considerado o sétimo na linha de comando do país.
Vice-primeiro-ministro entre 2013 e 2018, Zhang Gaoli é considerado próximo ao primeiro-ministro Li Keqiang e, acima de tudo, ao ex-presidente Jiang Zemin (1993-2003) que, apesar de seus 95 anos, mantém influência nas esferas do poder como líder da conhecida facção do Grupo de Xangai.
A explosão do escândalo poucos dias antes da abertura de uma grande reunião do Comitê Central do Partido Comunista Chinês levou alguns a supor que Zhang era vítima colateral de uma disputa entre Xi e seu antecessor Jiang Zemin.
Na reunião, Xi Jinping aprovou uma resolução sobre os 100 anos de história do partido, elogiando sua gestão e minimizando as contribuições de Jiang Zemin. É "possível" que Xi Jinping "tenha procurado lançar um aviso ao Grupo de Xangai" atacando um de seus membros pouco antes da reunião, segundo Willy Lam.
Formado em economia, Zhang passou grande parte de sua carreira em uma empresa pública do setor de petróleo na rica província de Cantão (Sul). Ali começou sua ascensão política, primeiro como vice-governador da província (1988) e depois como número um do partido na emergente cidade de Shenzhen, às portas de Hong Kong. Depois, assumiu a província de Shandong (Leste) e mais tarde Tianjin (Norte).
— Ele foi capaz de subir na hierarquia graças ao apoio de líderes poderosos — afirma Lam.