Uma ex-secretária de um campo de concentração nazista de 96 anos, detida na quinta-feira (30) passada depois de fugir antes seu julgamento na Alemanha, foi colocada em liberdade nesta terça-feira (5) para aguardar uma audiência em 19 de outubro.
— O tribunal suspendeu a ordem de detenção e deixou a acusada em liberdade, sob a condição de medidas de precaução — afirmou a porta-voz do tribunal de Itzehoe (norte), Frederike Milhoffer, sem revelar a natureza das medidas.
Irmgard Furchner, que no momento dos crimes atribuídos a ela tinha entre 18 e 19 anos, será a primeira mulher envolvida com o nazismo a ser julgada em várias décadas no país e deve responder por cumplicidade no assassinato de mais de 10 mil pessoas.
A idosa fugiu na quinta-feira passada, antes da abertura do julgamento, mas foi detida poucas horas depois. A Alemanha, que por muito tempo relutou em procurar seus criminosos de guerra, nunca havia julgado ex-nazistas tão idosos.
Antes do início do julgamento, a acusada havia informado à Justiça sua intenção de fuga, em uma carta enviada há poucas semanas ao presidente do tribunal, segundo a revista Der Spiegel.
Na carta, ela garantiu que "boicotaria o processo, já que seria degradante para ela se participasse dele", explicou à AFP o advogado Christoph Rückel, que representa legalmente os sobreviventes da Shoah.
A Promotoria acusa a nonagenária de ter participado do assassinato de detidos no campo de concentração de Stutthof, na atual Polônia, onde trabalhou como datilógrafa e secretária do comandante do campo, Paul Werner Hoppe, entre junho de 1943 e abril de 1945.
Cerca de 65 mil pessoas morreram neste campo, próximo da cidade de Gdansk, incluindo "prisioneiros judeus, guerrilheiros poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos", segundo a Promotoria. Segundo Rückel, "ela foi responsável por toda correspondência do comandante do campo".
— Também digitou as ordens de execução e de deportação e colocou suas iniciais — declarou o advogado à emissora regional pública NDR.
Após um longo procedimento, a Justiça considerou em fevereiro que a idosa estava apta para comparecer a julgamento, apesar da idade avançada. As audiências deveriam durar apenas poucas horas a cada dia.
Passados 76 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a Justiça alemã continua procurando ex-criminosos nazistas ainda vivos. Diferentes promotores alemães estão examinando, atualmente, oito casos que envolvem, em particular, ex-funcionários dos campos de Buchenwald e Ravensbrück, informou à AFP o Escritório Central para o Esclarecimento de Crimes do Nacional-Socialismo.
Nos últimos anos, vários processos foram abandonados pela morte dos suspeitos, ou por sua incapacidade física de comparecer aos tribunais.
Apesar de a Alemanha ter condenado na última década quatro ex-guardas ou funcionários dos campos nazistas de Sobibor, Auschwitz e Stutthof, o país julgou poucas mulheres envolvidas com o regime nazista, relatam historiadores.
A Justiça examinou os casos de pelo menos três funcionárias de campos nazistas. Entre eles, estava o de outra secretária que trabalhava em Stutthof, mas ela faleceu no ano passado, antes da conclusão do processo.
Quase 4 mil mulheres trabalharam como guardas nos campos de concentração, segundo os historiadores, mas poucas foram julgadas após a guerra.