Washington e Pequim mantêm alta a tensão no Leste da Ásia. Os Estados Unidos anunciaram a conclusão de exercícios militares no Estreito de Taiwan, ao lado do Canadá, na semana passada. Imediatamente, a China condenou as manobras, dizendo que elas "prejudicam paz e a estabilidade da região".
No entanto, em agosto, segundo a edição de domingo do jornal Financial Times, os chineses testaram um míssil hipersônico com capacidade nuclear, que teria surpreendido os americanos. Após circundar a Terra, ele teria acelerado e errado o alvo em cerca de 38 quilômetros - o suficiente para demonstrar um avanço chinês em um tipo de armamento que preocupa os americanos.
Apesar de cinco fontes de inteligência dos Estados Unidos terem confirmado o lançamento ao jornal britânico, a China negou ontem que tenha realizado o teste de um míssil hipersônico. Segundo o porta-voz da chancelaria da China, Zhao Lijian, o que ocorreu foi "um teste de rotina de um veículo espacial, com o objetivo de testar a tecnologia deste tipo de dispositivo reutilizável".
Nos bastidores, porém, o aparente progresso dos chineses levanta novas questões sobre o perigo de os Estados Unidos subestimarem a modernização militar da China. "Não temos ideia de como eles fizeram isso", disse uma das fontes ao Financial Times.
Estados Unidos, Rússia e China estão desenvolvendo armas hipersônicas, incluindo veículos planadores lançados ao espaço em um foguete, mas que orbitam a Terra com o próprio impulso. Eles voam a cinco vezes a velocidade do som, menos que um míssil balístico, mas não seguem a trajetória parabólica fixa e são manobráveis, o que os torna mais difíceis de rastrear.
TECNOLOGIA
— Estamos muito preocupados com o que a China está fazendo — disse ontem Robert Wood, representante americano para questões de desarmamento em Genebra.
— Diante do desenvolvimento deste tipo de armamento, não temos outra opção a não ser reagir na mesma linha.
Estados Unidos, Rússia e Coreia do Norte também estão desenvolvendo mísseis hipersônicos. Em um desfile de 2019, a China apresentou o avanço do armamento, incluindo um foguete deste tipo, conhecido como DF-17. A tecnologia também é uma obsessão do Pentágono, que desenvolve um planador hipersônico - mas seu primeiro teste em grande escala, em abril, fracassou.
— A tecnologia hipersônica é somente um aspecto de todas as preocupações que temos em relação à militarização da China. Sua força nuclear estratégica é uma grande preocupação há muito tempo — disse Wood.
— Por isso, esperamos poder criar um marco bilateral com a China para discutirmos a respeito da redução de riscos.
Wood também se preocupa com o risco de uma nova corrida armamentista.
— Não sabemos como nos defender dessa tecnologia - e China e Rússia também não sabem.
É neste clima - que muitos analistas chamam de nova Guerra Fria - que os Estados Unidos realizaram novas manobras militares no Estreito de Taiwan, envolvendo um contratorpedeiro de mísseis guiados e uma fragata canadense. Considerada por Pequim uma província rebelde, a ilha de Taiwan está sob crescente pressão militar e política para ser reintegrada ao restante da China, embora o governo taiwanês prometa defendê-la a qualquer custo do apetite chinês.
TENSÃO
Nas últimas semanas, a China chegou a enviar cerca de 150 aeronaves à Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan - considerada espaço aéreo internacional - para exigir que outras aeronaves em trânsito se identifiquem por motivos de segurança nacional. "Taiwan faz parte da China", disse um comunicado do comando conjunto do Exército chinês.
— A ameaça representada pela ascensão da China será tema importante das discussões futuras da Otan — disse o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg. Segundo ele, as ações de Pequim têm um impacto na segurança da Europa por meio de suas capacidades cibernéticas, novas tecnologias e mísseis de longo alcance.
A Otan passou décadas focada na Rússia e, desde 2001, mais preocupada em combater o terrorismo. Agora, o novo foco da aliança é a China, o que representa uma mudança na orientação geopolítica dos Estados Unidos. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.