O ativista Paul Rusesabagina, ex-gerente do hotel Mille Collines cuja história inspirou o filme Hotel Ruanda (2005) foi declarado culpado de "terrorismo", anunciou nesta segunda-feira (20) o tribunal de Kigali.
— Fundou uma organização terrorista e contribuiu economicamente para atividades terroristas — afirmou a juíza Beatrice Mukamurenzi sobre o caso de Rusesabagina por seu suposto apoio à Frente de Libertação Nacional (FLN), um grupo rebelde acusado de executar ataques fatais em 2018 e 2019 no país africano.
O tribunal ainda precisa anunciar a sentença correspondente, o que deve ocorrer ainda nesta segunda.
Rusesabagina, que usou seu prestígio para denunciar o presidente ruandês Paul Kagame como ditador e se tornou um crítico ferrenho do regime neste país, foi detido em agosto de 2020 quando um avião que ele acreditava seguir para o Burundi pousou em Kigali.
A família afirma que Rusesabagina, hoje com 67 anos, foi sequestrado e alega que as nove acusações contra ele, incluindo terrorismo, são uma vingança do governo por suas críticas.
Kagame rejeita as críticas sobre o caso. Ele declarou que Rusesabagina está detido não por sua fama, e sim pelas vidas perdidas "devido a suas ações".
O julgamento contra Rusesabagina e outras 20 pessoas começou em fevereiro, mas o réu, que tem nacionalidade belga e reside nos Estados Unidos, boicotou o processo desde março, ao acusar o tribunal de "arbitrariedade e falta de independência".
Os Estados Unidos, que concederam a Rusesabagina a Medalha Presidencial da Liberdade em 2005, o Parlamento Europeu e a Bélgica expressaram preocupações com a legitimidade do julgamento.
Indicado ao Oscar, Hotel Ruanda mostra acontecimentos da época em que Rusesabagina era gerente do Hotel des Mille Collines, na capital Kigali. Durante conflitos que deixaram milhares de mortos no país, ele salvou a vida de mais de mil pessoas ao abrigá-las no local.