A sucessão de Angela Merkel será definida neste domingo (26) na Alemanha, onde os eleitores votam para arbitrar uma disputa acirrada entre os sociais-democratas e os conservadores, após 16 anos no poder da chanceler.
Nessa votação legislativa, cujo resultado é totalmente incerto, os sociais-democratas (SPD) estão um pouco à frente, com 25%, enquanto os conservadores são creditados com 22% a 23%, uma pontuação historicamente baixa, de acordo com as últimas pesquisas.
— Ainda vou votar. Este ano será emocionante saber quem vencerá — disse Ursula Becker, uma eleitora de 62 anos em Aachen.
Foi nesta cidade que votou esta manhã Armin Laschet, o candidato de centro-direita que luta para conservar a Chancelaria.
— Cada voto conta — lançou o chefe da União Democrata-Cristã CDU, porque definirá a "direção da Alemanha para os próximos anos".
Seu principal rival, o social-democrata Olaf Scholz, que votou em Potsdam, não muito longe de Berlim, viu no bom tempo "um bom sinal" para a centro-esquerda.
Cerca de 60,4 milhões de eleitores têm até as 18h (13h00 de Brasília) para eleger seus deputados e cerca de 40% se diziam ainda indecisos alguns dias antes desta votação crucial para a maior economia da Europa.
O prognóstico é ainda mais complicado pelo peso do voto postal, privilegiado por muitos eleitores, incluindo Angela Merkel, de 67 anos, que deixará o cenário político após quatro mandatos.
Discussões
O nome do futuro chanceler e a composição de sua provável maioria correm o risco de não serem conhecidos neste domingo e longas negociações serão necessárias nos próximos meses para formar a futura equipe no poder. Com o risco de provocar uma paralisia europeia até o primeiro trimestre de 2022.
Depois de se manter afastada da disputa eleitoral, a chanceler multiplicou nos últimos dias suas aparições públicas em apoio de Armin Laschet.
Por muito tempo à frente nas intenções de voto, os democratas-cristãos correm o risco de cair pela primeira vez desde 1949 abaixo do limite simbólico de 30%.
Além do desgaste natural, a união conservadora sofreu com a péssima campanha de seu candidato, desajeitado e impopular.
Já os erros de seus adversários, combinados com a quase impecabilidade de Olaf Scholz, ministro das Finanças de 63 anos, ressuscitaram o SPD.
Este centrista, ex-prefeito de Hamburgo, não hesita em se apresentar, até mesmo com gestos, como o verdadeiro herdeiro de Merkel.
Se Armin Laschet, presidente da maior região, Renânia do Norte-Vestfália, tem a reputação de sempre se reerguer, a marcha parece muito acelerada desta vez para o jornalista de 60 anos.
Surpresa
O espantalho de uma coalizão de esquerda, agitado pelos conservadores, pode, entretanto, mobilizar os indecisos.
Neste domingo, em um colégio eleitoral em Berlim, Hagen Bartels, 64 anos, esperava uma "surpresa, que o primeiro partido não seja o SPD, mas provavelmente a CDU".
Os Verdes provavelmente terão de contentar-se com o terceiro lugar, com cerca de 17%.
Essa pontuação seria histórica para os Grünen, que até hoje superaram a marca de 10% apenas em 2009.
Mas os deixariam com um gosto amargo porque chegaram a liderar as pesquisas em abril, em uma Alemanha preocupada com as mudanças climáticas, um assunto que mobiliza particularmente os jovens.
— Este é realmente um tema muito importante para mim, porque acho que vai influenciar muito minha vida no futuro — disse Maite Hoppenz, eleitora de 18 anos, que votou pela primeira vez.
A líder dos Verdes, Annalena Baerbock, de 40 anos, cometeu muitos erros antes do verão, entre acusações de plágio e receitas não declaradas.
— Os Verdes começaram fortes e depois caíram, como sempre — observou, desapontado, Manuel Gosse, eleitor de 35 anos em Berlim.
Os Verdes querem participar no governo, se possível com os sociais-democratas. Pela primeira vez desde a década de 1950, no entanto, o apoio de um terceiro partido deve ser necessário.
Os liberais do FDP já aparecem como um potencial "fazedor de reis".
A esquerda radical Die Linke parece estar pronta para participar, mas primeiro terá que desistir de suas críticas à Otan.
A extrema-direita AfD, que entrou no Bundestag pela primeira vez há quatro anos, deve confirmar sua ancoragem parlamentar com cerca de 10%, mas continua excluída de qualquer coalizão possível.