Apesar das tentativas de moderação no discurso e promessas de modernização em relação ao período em que esteve no poder pela primeira vez (1996-2001), o Talibã reagiu com violência à primeira tentativa de oposição ao grupo desde a tomada de Cabul, no último domingo (15). Os insurgentes reprimiram um protesto na cidade de Jalalabad, no leste do Afeganistão, abrindo fogo contra a multidão e agredindo manifestantes e jornalistas.
O ato oposicionista, que ocorreu nesta quarta-feira (18), foi motivado pela troca da bandeira oficial do país — preta, vermelha e verde — pela bandeira branca com uma inscrição que representa o Talibã e o Emirado Islâmico, que foi implementado pelo grupo quando esteve no poder. Os manifestantes tentaram impedir a troca e acabaram sendo violentamente agredidos.
Testemunhas ouvidas por agências de notícias internacionais e pela mídia local afirmam que pessoas morreram durante o confronto, mas até o momento não foram divulgadas informações oficiais sobre a real dimensão da repressão contra os manifestantes. A Reuters e a rede Al Jazeera falam em três mortos e 12 feridos.
Em um vídeo gravado no momento da confusão é possível ver uma multidão carregando as bandeiras do país e, posteriormente, o som de tiros. Pelas imagens, não é possível afirmar se alguém se feriu.
O Talibã assumiu o controle da cidade quatro dias antes, sem muita resistência, depois que um acordo foi negociado com os líderes locais. Durante a semana, os insurgentes realizaram patrulhas em caminhonetes apreendidas da agora extinta força policial.
Apesar dos riscos, centenas de manifestantes marcharam pela principal rua comercial, assobiando, gritando e ostentando grandes bandeiras da República Afegã. Os combatentes do Talibã atiraram para o alto para dispersar a multidão, mas os manifestantes não se dispersaram, mostra vídeo transmitido pela mídia local. Quando isso falhou, os combatentes recorreram à violência.
A manifestação e a resposta violenta ameaçaram minar os esforços da liderança do Talibã de se apresentar como administradores responsáveis pelo governo. A revolta pública veio quando o grupo se preparava para dar detalhes sobre como será seu governo, nomeando ministros e preenchendo cargos-chave.
— Não queremos mais que o Afeganistão seja um campo de batalha — disse Zabihullah Mujahid, o porta-voz chefe do Talibã, em uma coletiva de imprensa na terça-feira.
— De hoje em diante, a guerra acabou.
Enquanto muitos eram céticos quanto a essas garantias, em Cabul, os ritmos da vida diária começaram a retornar — mas eles estavam reduzidos em muitos aspectos. Havia visivelmente menos mulheres nas ruas. Algumas das que se aventuraram a sair não se cobriram com a burca tradicional, a mortalha de corpo inteiro que cobre o rosto necessária na última vez em que o Talibã governou.