O Haiti terá, nesta terça-feira (20), um novo governo liderado por Ariel Henry como primeiro-ministro — a quem o presidente Jovenel Moise havia nomeado dois dias antes de ser assassinado —, após o premier interino, Claude Joseph, concordar em deixar o poder, "pelo bem do país".
O acordo encerra uma luta pelo poder entre os dois homens, que vinham disputando apoio internacional e interno a suas reivindicações pelo cargo, e neutraliza uma turbulenta crise política no país caribenho desde o assassinato do presidente, no dia 7.
Joseph afirmava que Henry, um neurocirurgião de 71 anos, ainda não havia sido juramentado para o cargo e não tinha o direito de ser o líder interino. Logo após o assassinato de Moise, Joseph declarou que estava no comando do país e decretou estado de emergência.
A disputa pelo poder provocou uma crise política que deixou especialistas constitucionais confusos e diplomatas preocupados com um amplo colapso social que poderia desencadear a violência ou levar os haitianos a fugir em massa do país, como fizeram após desastres naturais, golpes ou outros períodos de profunda instabilidade.
A decisão de Joseph foi tomada em meio a pressão de países estrangeiros, entre eles os Estados Unidos, que há muito tempo exercem enorme influência no país. No fim de semana, a reivindicação de Henry recebeu o apoio de embaixadores de Brasil, EUA, Alemanha, Canadá, Espanha, França, União Europeia, assim como da representante especial da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da representante especial do secretário-geral da ONU. Em um comunicado, o grupo pediu no sábado "a formação de um governo consensual e inclusivo".
"Com este propósito, (o grupo) incentiva encarecidamente o primeiro-ministro designado Ariel Henry a continuar a missão que lhe foi confiada para formar esse governo", acrescentaram os embaixadores.
Os EUA celebraram a notícia e pediram a criação de uma coalizão "inclusiva", que traga estabilidade ao país.
— Ficamos animados em ver os atores políticos e civis haitianos trabalhando para formar um governo de união que possa estabilizar o país e sentar as bases para eleições livres e justas — disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
Membros da sociedade civil haitiana criticaram duramente nos últimos dias a comunidade internacional por apoiar Henry e insistiram na criação de um novo governo interino desvinculado dos tradicionais partidos políticos do Haiti. Muitos haviam pedido a renúncia de Moise, alegando que ele estava aliado às gangues violentas que aterrorizaram o país, e disseram que não reconheceriam um líder interino nomeado por ele.
O novo governo, que enfrenta múltiplos desafios em razão da atual crise institucional e de segurança no país, terá a tarefa de organizar eleições o mais rápido possível. Moise governava o Haiti por decreto depois que as eleições legislativas de 2018 foram adiadas em razão de disputas, e até agora o país não tem uma legislatura em exercício.
Além das eleições presidenciais, parlamentares e locais, o Haiti deve realizar um referendo constitucional em setembro, depois que a consulta foi adiada duas vezes pela pandemia do coronavírus.
O funeral de Moise, assassinado aos 53 anos por um comando armado, será realizado na sexta-feira. Sua mulher, Martine Moise, ferida no mesmo ataque, voltou no sábado para o funeral em Porto Príncipe, depois de se recuperar em um hospital de Miami.