A mineradora multinacional Rio Tinto aceitou investigar o legado ambiental e humano da gigantesca mina de Panguna, na ilha de Bougainville, em Papua Nova Guiné - anunciou a empresa anglo-australiana, acusada, entre outras coisas, de se isentar de sua responsabilidade de limpar os resíduos tóxicos.
A multinacional informou que abrirá uma investigação sobre esta mina de cobre e ouro. Centro da violenta guerra civil em Bougainville nas décadas de 1980 e 1990, esta mina continua poluindo os rios próximos mais de três décadas depois de seu fechamento, conforme denúncias de moradores locais.
Em 2016, a Rio Tinto cedeu o controle de suas ações na mina de Panguna para os governos de Papua Nova Guiné e de Bougainville. A população também acusa a mineradora de tentar evitar os custos de limpeza do local.
Panguna já foi a maior mina de cobre a céu aberto do mundo, representando, sozinha, até 40% das exportações de Papua Nova Guiné. Ficou em funcionamento de 1972 a 1989.
Seus danos ambientais causados e o benefício econômico nulo para os habitantes locais deflagraram fortes confrontos entre o Exército e os rebeldes separatistas. A guerra civil causou 20.000 mortes e ainda é o conflito mais violento no Pacífico, desde a Segunda Guerra Mundial.
- Identificar e avaliar os impactos -
Pressionada por organizações de defesa dos direitos humanos, a Rio Tinto disse que buscará "identificar e avaliar os impactos" da mina.
"É um primeiro passo importante para a abertura de um diálogo com aqueles que foram afetados pelo legado da mina de Panguna", declarou o diretor-geral do grupo, Jakob Stausholm.
"Levamos este assunto muito a sério e estamos decididos a identificar e avaliar o papel que podemos ter tido em qualquer impacto negativo", acrescentou.
Em um primeiro momento, a Rio Tinto financiará um painel independente de especialistas internacionais para avaliarem o impacto. Este anúncio deve reunir as organizações que militam pela criação de um fundo de indenização para as vítimas e pela restauração dos lugares afetados.
O custo da limpeza da área é estimado em US$ 1 bilhão.
"É um dia muito importante", afirmou Theonila Roka Matbob, uma política local.
"Durante muitos anos, a mina de Panguna envenenou nossos rios com cobre. Nossas crianças estão doentes por causa da poluição", completou.
O Centro Jurídico para os Direitos Humanos de Melbourne, que recebeu as queixas de mais de 150 habitantes de Bougainville, viu neste anúncio "um avanço importante" e prometeu "garantir que a avaliação conduza a uma ação rápida da Rio Tinto para ser responsabilizada por seu legado desastroso na ilha de Bougainville".
Em 1998, um cessar-fogo foi alcançado e, em um referendo realizado em 2019, quase a totalidade dos eleitores (98%) desta ilha do Pacífico se declarou a favor da independência. Bougainville desfruta de autonomia desde 2005.
Seus líderes estabeleceram o ano 2027 como prazo para alcançar a independência total e abandonar Papua Nova Guiné.
* AFP