Mais de 22.000 famílias afegãs fugiram dos combates em Kandahar, antigo reduto do Talibã, anunciaram neste domingo (25) as autoridades, que também reportaram a prisão de quatro insurgentes suspeitos de um ataque com foguetes esta semana em Cabul.
Desde o início de maio, a violência aumentou em várias províncias, incluindo Kandahar, depois que os insurgentes lançaram uma grande ofensiva poucos dias após as forças estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos iniciarem sua retirada final do país.
A ofensiva levou o Talibã a capturar dezenas de distritos e pontos de fronteira e cercar várias capitais provinciais.
"Os combates deslocaram 22.000 famílias no mês passado em Kandahar", declarou à AFP Dost Mohammad Daryab, chefe do departamento provincial para os refugiados.
"Todos deixaram os distritos voláteis da cidade para áreas mais seguras", acrescentou.
Neste domingo, os combates continuavam nos arredores da cidade de Kandahar.
"A negligência de algumas forças de segurança, especialmente da polícia, fez com que o Talibã se aproximasse", reclamou à AFP Lalai Dastageeri, vice-governador da província de Kandahar.
"Agora estamos tentando organizar nossas forças de segurança", explicou.
As autoridades locais montaram quatro acampamentos para os deslocados, estimados em 154.000.
Hafiz Mohammad Akbar, um morador de Kandahar, disse que sua casa havia sido ocupada pelo Talibã depois que ele fugiu.
"Eles nos forçaram a sair (...) Agora eu moro com minha família de 20 pessoas em um lugar sem banheiro", disse Akbar.
- Temor de novos combates -
Os moradores temem novos combates nos próximos dias.
"Se eles realmente querem lutar, deveriam ir para um deserto, não destruir a cidade", denunciou Khan Mohammad, que se estabeleceu em um acampamento com sua família.
"Mesmo se vencerem, não poderão governar uma cidade fantasma", disse.
Kandahar, com seus 650.000 habitantes, é a segunda maior cidade do Afeganistão depois de Cabul.
Esta província do sul foi o epicentro do regime do Talibã quando governou o Afeganistão entre 1996 e 2001.
Expulso do poder em uma invasão liderada pelos Estados Unidos em 2001, após os ataques de 11 de setembro, os talibãs lideraram desde então um movimento insurgente.
Sua última ofensiva, lançada no início de maio, permitiu que o grupo assumisse o controle de metade dos cerca de 400 distritos do país.
No início desta semana, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, o general Mark Milley, disse que os insurgentes parecem ter "impulso estratégico" no campo de batalha.
No entanto, a ONG Human Rights Watch falou sobre atrocidades cometidas pelo Talibã contra civis em áreas sob seu controle, incluindo a cidade de Spin Boldak, perto da fronteira com o Paquistão, que eles capturaram no início deste mês.
"Os líderes talibãs negaram qualquer responsabilidade por qualquer abuso, mas as evidências crescentes de expulsões, detenções arbitrárias e assassinatos nas áreas sob seu controle estão levantando temores entre as populações", disse Patricia Grossman, diretora associada da HRW para a Ásia, em um comunicado.
Por outro lado, as autoridades anunciaram que quatro pessoas, apresentadas como talibãs e supostamente envolvidas no ataque com foguetes ao palácio presidencial no primeiro dia do Eid al-Adha, o feriado muçulmano do Sacrifício, foram presas.
Pelo menos três foguetes caíram perto do palácio na última terça-feira, enquanto o presidente Ashraf Ghani e seus principais funcionários faziam orações ao ar livre para marcar o início do feriado.
O ataque, porém, foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico.
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* AFP