O candidato de esquerda Pedro Castillo se mantinha, no final da tarde desta terça-feira (8), à frente na apuração dos votos do segundo turno presidencial no Peru, mas sua adversária de direita, Keiko Fujimori, se aproxima, de acordo com dados oficiais.
Castillo tem 50,24% dos votos contra 49,75% de sua adversária, após a apuração depois das 17h locais (19h de Brasília) de 96,4% das urnas eleitorais. A contagem, porém, segue em aberto, segundo fontes do órgão eleitoral do Peru (Onpe).
A vantagem do professor de escola rural agora é de 84 mil votos, enquanto há 15 horas era de quase 98 mil, segundo o Onpe.
A redução na vantagem era "previsível com a chegada das cédulas de votação do exterior, mas resta saber se será suficiente" para Keiko, explicou Jessica Smith, cientista política peruana, à AFP.
"A margem vai continuar diminuindo, e agora a contagem dos votos das urnas torna-se crucial" para decidir a eleição, acrescentou a acadêmica da Universidade Central do Chile. A filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori denunciou na segunda-feira (7) "irregularidades" e "indícios de fraude" depois que o rival passou a liderar a apuração.
— Há uma clara intenção de boicotar a vontade popular — afirmou a candidata, que exibiu vídeos e fotos para reforçar sua denúncia, incluindo uma ata de votação de uma seção na área rural na qual o adversário obteve 187 votos e ela nenhum.
A Onpe nega a possibilidade de fraudes, assim como a presidente da Associação Civil Transparência, Adriana Urrutia, que declarou ao jornal El Comercio:
— Não há nenhuma evidência que nos permita falar de fraude eleitoral.
Enquanto o suspense persiste, Castillo pediu em sua conta no Twitter atenção "para defender a democracia que se expressa em cada um dos votos, dentro e fora do nosso amado Peru. Não podemos descansar".
A esperança de Keiko está nos votos do exterior, onde estão registrados 1 milhão dos 25 milhões de eleitores peruanos, que demoram a ser contabilizados. O partido Peru Livre, de Castillo, pediu em um comunicado ao Onpe que "cuide da correta proteção dos dados dos votos, ao processá-los e publicá-los".
No exterior, Keiko tem, por enquanto, 66,19% dos votos contra 33,8% do rival, com 56,8% das urnas apuradas, uma diferença de quase 61 mil votos de vantagem sobre Castillo.
Há ainda que se contar 2% das urnas no Peru, em sua maioria em zonas rurais e afastadas, onde Castillo recebe mais votos que sua rival. Em todo o país, 75% dos eleitores registrados votaram no domingo (6), mais que os 70% do primeiro turno em abril.
O segundo turno parece longe de acabar com os distúrbios políticos dos últimos cinco anos. O Peru teve quatro presidentes desde 2018, três deles em cinco dias de novembro de 2020.
Contagem com vigília
A missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou, pouco antes da denúncia de Keiko, que "a apuração dos votos aconteceu de acordo com os procedimentos oficiais", certificando o trabalho do ONPE.
— Se Keiko vencer, como ela vai justificar sua vitória se denunciou fraude? — questiona o analista Hugo Otero, ex-assessor do falecido ex-presidente Alan García, à AFP.
— Estamos passando por um momento de incerteza e expectativas, mas o que o país espera é que os resultados da votação sejam aceitos pelos candidatos — completou.
Keiko, 46 anos, casada e com duas filhas, pode ser a primeira presidente mulher do Peru, meta para a qual trabalha há 15 anos, desde que assumiu a tarefa de reconstruir praticamente das cinzas o movimento político de direita populista fundado por seu pai em 1990.
Uma derrota para Castillo não significaria apenas a terceira derrota em um segundo turno. Ela será levada a julgamento e corre o risco de ir para a prisão por uma investigação do MP sobre os pagamentos ilegais da Odebrecht, um escândalo que afetou quatro ex-presidentes peruanos. Keijo já passou 16 meses em prisão preventiva por esse caso.
Castillo, professor de Cajamarca (norte) de 51 anos, que saiu do anonimato há quatro anos ao liderar uma greve de docentes, seria, em caso de vitória, o primeiro presidente peruano sem vínculos com as elites política, econômica e cultural.
O novo presidente assumirá o poder em 28 de julho em um país que registra a maior taxa de mortalidade do mundo pela pandemia, com mais de 186 mil mortos entre 33 milhões de habitantes.