Capital da China, Pequim registrou nesta segunda-feira (15) uma grande tempestade de areia, a maior dos últimos 10 anos. O fenômeno provocou o cancelamento de 350 voos com decolagem prevista da cidade e agravou ainda mais a poluição.
As tempestades de areia, procedentes do deserto de Gobi, são frequentes na primavera no norte da China, mas os moradores da capital não observavam o céu tão carregado há muitos anos.
A prefeitura de Pequim, cidade de mais de 20 milhões de habitantes, suspendeu todas as atividades esportivas ao ar livre nos centros de ensino e aconselhou as pessoas que sofrem de problemas respiratórios que não saiam de casa.
Porém, a maioria dos moradores seguiu para o trabalho nesta segunda-feira, com as cabeças cobertas e alguns até com óculos de proteção ou redes para o cabelo.
— Tenho a sensação de que cada respiração vai causar problemas pulmonares — declarou Zhang Yunya, moradora da capital chinesa.
"Fim do mundo"
Em condições complicadas, incomuns nos últimos anos, muitas pessoas recordaram as tempestades de outras décadas.
— Lembro que as tempestades de areia de mais de 10 anos atrás acabavam após uma hora, mas temo que esta não acabe até o fim do dia — disse Pan Xiaochuan, especialista em saúde ambiental de Pequim.
A situação dificultava a visibilidade de alguns edifícios emblemáticos, como a Cidade Proibida ou a sede da televisão nacional, com o topo de 234 metros escondido atrás da névoa.
Na rede social Weibo, os chineses transformaram o fenômeno em um dos principais temas do dia. "Esta tempestade alaranjada parece o fim do mundo", escreveu um morador
O site especializado aqicn.org considera "perigosa" a qualidade do ar. No início da manhã, o nível de partículas PM10 era quase 20 vezes maior que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O nível das partículas PM2,5, ainda mais nociva, chegou a 560, um nível poucas vezes registrado nos últimos anos em Pequim.
Os episódios de poluição extrema se tornaram menos frequentes nos últimos anos na capital chinesa, onde o combate à a poluição se tornou um dos maiores desafios para o país, que deseja alcançar a neutralidade de carbono até 2060.
Li Shuo, do Greenpeace China, afirmou que as atividades industriais "intensas" das últimas semanas pioraram a qualidade do ar na capital. Os níveis de produção de aço, cimento e alumínio são superiores aos observados antes da pandemia de coronavírus. Para Pan Xiaochuan, a falta de chuvas nos últimos dias explicaria o fato de a tempestade estar particularmente carregada de areia.
— Quando não há umidade, a poeira tende a acumular — disse.