Nova York, que ostenta o triste recorde de cidade com o maior número de mortes por coronavírus nos Estados Unidos, prestou uma homenagem comovente no domingo (14) às suas 30.258 vítimas da covid-19 no primeiro ano da pandemia.
— Perdemos mais nova-iorquinos do que na Segunda Guerra Mundial, na Guerra do Vietnã, no furacão Sandy e no 11 de Setembro juntos. Cada família foi afetada e, para tantas famílias, há dor, uma dor na carne viva — disse o prefeito Bill de Blasio em uma cerimônia virtual transmitida ao vivo, após pedir um minuto de silêncio em homenagem às vítimas.
De Blasio fez menção especial aos "heróis da saúde" que "salvaram vidas", por vezes à custa das suas, e pediu à população que se lembre dos bons tempos.
— Aconteça o que acontecer, ninguém pode tirar as danças que você teve — disse o prefeito, em espanhol, nesta cidade onde um terço dos imigrantes é de origem latina, citando o escritor colombiano e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez.
— Ombros a ombro, ajudando-nos uns aos outros, vamos retomar nossa cidade — prometeu.
A cerimônia virtual começou com um breve recital da Filarmônica de Nova York, em frente a velas acesas na icônica Ponte do Brooklyn em uma noite gelada e de ventos. Grandes fotos em preto e branco das vítimas foram projetadas na ponte. Líderes religiosos e uma jovem poeta discursaram.
A homenagem foi encerrada em frente à Ponte do Brooklyn com a participação do bispo negro Hezekiah Walker, um popular artista gospel e pastor da grande Igreja do Brooklyn Love Fellowship Tabernacle, junto com seu coro The Love Fellowship.
Carolina Juárez Hernández, uma jovem mexicano-americana, falou de seu pai, Francisco Juárez García, um imigrante mexicano que faleceu de covid em 28 de abril de 2020, quando Nova York era o epicentro nacional da pandemia. As comunidades latina e negra, as mais pobres, foram as mais afetadas.
— Toda minha família testou positivo para covid — contou a jovem.
Quando ela e sua mãe receberam alta do hospital, o pai foi internado.
— Não me dei conta de que não podia ir com ele, não pensei em lhe dar um abraço de despedida, queria mantê-lo animado, então apenas lhe disse "conversaremos mais tarde, pai'", relatou, emocionada.
— Até hoje me arrependo de não ter dado esse abraço nele, porque nunca mais o vi pessoalmente — lamentou.