Quatro de cada cinco doses da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca-Oxford entregues aos 27 países da União Europeia não foram usadas, apontou uma investigação do jornal britânico The Guardian publicada nesta quinta, 25. Usando dados do Centro Europeu de Controle de Prevenção de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) e outras fontes oficiais, o jornal estimou que 4.849.752 das 6.134.707 doses distribuídas não foram usadas.
De acordo com o Guardian, a decisão das autoridades de França, Alemanha, Polônia e Itália de recomendar o uso da vacina de Oxford só para pessoas com menos de 65 anos, aliada à falha dos governos em redirecionar o imunizante para os mais jovens, seriam os motivos para a lenta administração das doses.
Nesta semana, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung que a vacina também é rejeitada após uma série de informações negativas sobre a eficácia e a segurança do imunizante.
"Há atualmente um problema de aceitação da vacina AstraZeneca", disse Merkel, na entrevista. "AstraZeneca é uma vacina confiável, eficaz e segura, aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos e recomendada na Alemanha até os 65 anos de idade. Todas as autoridades nos dizem que esta vacina é confiável. Com imunizantes tão escassos quanto agora, você não pode escolher com o que vacinar."
Conforme levantamento feito pelo jornal El País, a Alemanha armazenou 85% das vacinas da empresa - de quase 1,5 milhão de doses recebidas, pouco mais de 200 mil foram aplicadas. Na semana passada, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a vacina é "quase eficaz". Segundo o Guardian, das 1.137.600 de doses recebidas pelos franceses, 125.859 ou 11%, tinham sido aplicadas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a vacinação para todas as pessoas com mais de 18 anos. Quando aprovou o uso do imunizante, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) também disse que a vacina poderia ser usada por todas as pessoas com mais de 18 anos.
Apesar da liberação, a agência alemã resolveu não recomendar doses da AstraZeneca para pessoas acima de 65 anos, alegando que a maioria dos participantes nos testes tinha entre 18 e 55 anos de idade. A empresa afirmou que a eficácia da vacina em grupos etários mais altos não pôde ser avaliada e continua a fazer estudos.
A vacina da AstraZeneca já foi licenciada em pelo menos 50 países - o primeiro foi o Reino Unido, ainda no ano passado. "Estamos trabalhando bastante para tentar convencer as pessoas a aceitar a vacina e para construir novamente a confiança da população. Infelizmente, levará algum tempo para atingir esse objetivo", afirmou à Radio 4's Today Thomas Mertens, presidente da agência alemã que decidiu barrar a vacina para os mais velhos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.