A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos apresentou ao Senado, na segunda-feira (25), o impeachment contra o ex-presidente Donald Trump. O republicano é acusado de ter incitado violência no último dia 6, quando apoiadores do ex-presidente invadiram o Congresso com objetivo de impedir a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais. Ao menos cinco pessoas morreram nos confrontos.
Nove deputados democratas que atuarão como procuradores levaram o artigo de impeachment ao Senado na noite de segunda-feira, onde Trump será julgado, apesar de já ter deixado o cargo após a derrota para Biden nas eleições presidenciais de novembro.
A ação marcará dois acontecimentos inéditos: Trump é o único presidente norte-americano a sofrer impeachment na Câmara duas vezes e será o primeiro a ser julgado depois de deixar o cargo. Em fevereiro de 2020, após aprovação na Câmara, o Senado rejeitou um processo em que ele era acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso. Ele teria tentado forçar a Ucrânia a investigar Joe Biden, na época seu oponente presidencial, com ameaças de bloqueio de US$ 391 milhões da ajuda militar para o país que está guerra.
Se o Senado considerar Trump culpado, ele se tornará o primeiro presidente na história dos EUA a ser condenado em um julgamento de impeachment. Ele também poderá ser impedido de concorrer a cargos públicos.
Para condenar Trump, dois terços dos senadores teriam de aprovar o artigo de impeachment, isto é, pelo menos 17 republicanos teriam de se voltar contra o ex-presidente. Atualmente, o Senado está dividido pela metade entre democratas e republicanos, mas os democratas têm uma estreita maioria por causa do voto de desempate da presidente da Casa, a vice-presidente Kamala Harris.
O segundo julgamento de impeachment do ex-presidente sob a acusação de incitar a invasão do Capitólio agravou uma disputa entre seus colegas republicanos. Na Câmara, 10 deputados republicanos votaram a favor do impeachment de Trump.
Segundo levantamento feito pelo jornal The Washington Post, dos cem senadores da Casa, 40 são a favor do impeachment de Trump, 23 considerarão a condenação, 29 são decididamente contrários e oito manifestaram "posições ambíguas". Líderes do Senado concordaram em não iniciar o julgamento antes de 9 de fevereiro. Isso dará a Trump mais tempo para preparar uma defesa, e permitirá ao Congresso se concentrar nas prioridades iniciais do presidente Biden, entre elas a confirmação do gabinete.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos revelou que 51% dos americanos acreditam que o Senado deveria condenar Trump. O número se dividiu essencialmente segundo as filiações partidárias, já que menos de 2 a cada 10 republicanos concordam.
O senador republicano Mitt Romney, disse acreditar que o julgamento, que pode proibir Trump de se candidatar no futuro, foi uma resposta necessária ao apelo inflamado do ex-presidente a seus partidários para "combater" sua derrota eleitoral na invasão do dia 6.
— O artigo de impeachment enviado pela Câmara sugere conduta impugnável — disse Romney, crítico frequente de Trump, que votou por sua condenação durante o primeiro julgamento de impeachment.
— Está bastante claro que durante o ano passado e agora houve uma tentativa de corromper a eleição dos EUA e não foi pelas mãos do presidente Biden, mas sim pelo presidente Trump — afirmou o republicano à Fox News.
Na noite após a invasão dos apoiadores de Trump ao Capitólio - no momento em que o Congresso certificaria a vitória de Biden nas eleições - vários republicanos condenaram a violência. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, culpou Trump pelo ocorrido, dizendo que ele "provocou" a multidão.
Mas um número significativo de parlamentares republicanos, preocupados com a fervorosa base de eleitores de Trump, rejeitam o processo. O senador Tom Cotton sustentou que o Senado estava agindo além de sua autoridade constitucional ao conduzir o julgamento.
— Acho que muitos americanos vão achar estranho que o Senado esteja gastando seu tempo tentando condenar um homem que deixou o cargo há uma semana — disse Cotton à Fox News.