O presidente do Quirguistão, Sooronbai Jeenbekov, anunciou sua renúncia nesta quinta-feira (15), após dez dias de turbulências políticas e de manifestações marcadas pela violência, uma consequência das controversas eleições legislativas no país.
Vencidas por partidos favoráveis ao presidente, as eleições de 4 de outubro provocaram uma onda de manifestações violentas, que deixaram um morto e 1.200 feridos.
Os resultados do pleito, marcado por acusações de fraude, foram anulados após os protestos violentos e a ocupação de vários edifícios oficiais por grupos de opositores.
"Não me aferro ao poder, não quero entrar para a História do Quirguistão como o presidente que provocou um derramamento de sangue ao atirar contra seus concidadãos. Por isso, decidi renunciar", declarou Sooronbai Jeenbekov, de acordo com um comunicado da Presidência dessa ex-república soviética fronteiriça com a China.
Na semana passada, o chefe de Estado havia prometido que deixaria o poder quando o país recuperasse a estabilidade. Depois, recuou e disse que aguardaria a organização de novas eleições legislativas.
Ele recebeu o apoio da Rússia, principal potência na Ásia Central e que tem uma base militar no Quirguistão.
Jeenbekov decidiu renunciar nesta quinta-feira, pressionado pelo primeiro-ministro eleito pelo Parlamento, o nacionalista Sadyr Japarov, que exigia sua saída imediata do poder.
O presidente explicou que a posse do novo chefe de Governo não reduziu a agressividade, nem os pedidos de renúncia.
"Para mim, a paz no Quirguistão, a integridade do nosso país, a unidade do nosso povo e a paz em nossa sociedade são o mais importante", disse o presidente.
Ele pediu a "Japarov e outros políticos que retirem seus simpatizantes das ruas".
- Presidência interina -
Centenas de manifestantes, partidários do primeiro-ministro, permaneciam nas ruas nesta quinta-feira, agora para exigir a renúncia do presidente do Parlamento que, segundo a Constituição, deve governar o país de forma interina.
Se o chefe do Parlamento renunciar, a Presidência seguiria para Japarov.
Até a semana passada, Sadyr Japarov estava na prisão por ter tomado um governador regional como refém. Ele foi libertado por seus adeptos e conseguiu a anulação de sua condenação.
Graças a seus partidários, que ocuparam as ruas desde o anúncio dos resultados das eleições e ocuparam prédios públicos, ele conseguiu impor sua nomeação como primeiro-ministro, apesar das tentativas iniciais de Jeenbekov de impedir a designação.
O Quirguistão é o Estado mais plural, mas também o mais instável de todas as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central. Desde sua independência, o país registrou duas grandes revoltas, e três presidentes foram detidos, ou obrigados a partir para o exílio.
O país montanhoso também é um dos mais pobres da região.
Em 2010, a nação foi cenário de atos de violência étnica contra a minoria uzbeque no sul, o que provocou centenas de mortes.
* AFP